Gutinha: Como e quando começou a escrever? Fernanda: Os livros sempre foram companhia constante na minha vida, desde a infância. Em vez de historinhas, minha irmã mais velha costumava me contar fanfics antes de dormir. E eu até escrevi uma coisa ou outra perdida pelo meio da adolescência, mas foi só em 2015 que comecei a pensar na escrita como algo profissional, algo em que eu poderia me aperfeiçoar e mostrar para as outras pessoas. Nessa época, eu tinha um blog literário, o finado The Bookworm Scientist, que me colocou em contato com o mundo editorial, com os processos por trás de um livro. Fiz muitos amigos e nunca mais saí dessa vida. Em 2016, tive um conto publicado pela revista Trasgo. O resto é história. Gutinha: O fato de ser tradutora, preparadora e revisora de textos facilita o processo de escrita? E em algum momento atrapalha? Se cobra mais por isso? Fernanda: Nossa, vou precisar dar uma resposta bem grande aqui, haha. Acho que é possível ver uma evolução enorme na minha escrita desde que comecei a trabalhar no texto de outras pessoas. É uma espécie de laboratório. Nessas etapas de traduzir, preparar ou revisar, a gente é obrigado a prestar atenção em cada construção frasal, em cada escolha de palavras. Respeitar o estilo do autor, entender os mecanismos e ferramentas usados para contar cada cena. É como dissecar um texto com uma lupa, e a gente acaba aprendendo uns truques com a prática, ganhando repertório (sobretudo por precisar trabalhar em coisas fora da nossa zona de conforto). No meu caso, não sinto que me atrapalha de forma alguma, mas sei de alguns autores que não gostam muito de, por exemplo, traduzir e escrever ao mesmo tempo, porque sentem que a voz do outro autor acaba "se intrometendo" na história. É algo que varia de pessoa para pessoa. Quanto às cobranças... bem, escritor já é bicho autocrítico por natureza, haha. O fato de trabalhar com tradução e preparação me deixa mais atenta a entregar uma prosa o mais limpa e fluida possível desde o primeiro rascunho. Mas é importante ter em mente que são etapas distintas, que o seu cérebro vai estar preocupado com outras coisas, como ritmo, enredo ou se aquela piadinha está mesmo funcionando em determinada cena. Não é porque um livro foi escrito por um preparador que ele não precisará de preparação. Não existe "o texto à prova de erros". Um livro é o resultado de muitas mãos, e é importante valorizar cada parte do processo e entender a prioridade de cada etapa. Aproveito para agradecer a todos os profissionais da Gutenberg que estão corrigindo minhas falhas, haha. Gutinha: Quais foram (ou ainda são) as suas maiores referências no início da carreira? Fernanda: Eu tive a sorte de, mesmo ainda começando a escrever, poder acompanhar algumas das minhas referências bem de perto no mercado nacional. Fazendo parte da Mafagafo, por exemplo, pude ter contato com autores maravilhosos, como Hache Pueyo, Felipe Castilho, Thiago Lee, Anna Martino, Eric Novello, Renan Bernardo (isso só para citar alguns) e a própria Jana Bianchi. É um aprendizado constante poder ver esse pessoal nos bastidores, no dia a dia da escrita, que é bem diferente do que as pessoas costumam ter no imaginário. Além disso, como boa brasileira, fui muito influenciada pela nossa produção audiovisual, principalmente pelas novelas. Nas referências internacionais de leitura, tenho meio que uma fama no Twitter de defender qualquer coisa que Madeline Miller, Connie Willis e Maggie Stiefvater escrevam (não tenho culpa, elas são perfeitas). A Maggie, inclusive, tem um workshop de escrita muito bom em que ela diz que, no início da carreira, seu sonho era entrar em uma loja de aeroporto e ver um livro dela sendo vendido ali. Levei para a vida, haha. Gutinha: Como o realismo fantástico entrou na sua vida? Por que a escolha por essa corrente literária? Fernanda: Acho que não foi uma escolha consciente, sabe? Consumi obras de fantasia a vida inteira, e o elemento fantástico se tornou para mim um jeito natural de explicar alguns conceitos/problemáticas difíceis. Acho que o realismo mágico deixa a gente colocar em palavras coisas doloridas de uma forma mais palpável, mais humana. Também escrevo obras fora desse gênero, mas sinto que recorro a ele sempre que uma história precisa de um viés mais íntimo, mais sutil. Gutinha: O que podemos esperar de O fantasma de Cora? Fernanda: O fantasma de Cora foi escrito em 2018, uma época em que as coisas estavam ainda bem diferentes, em que os tempos eram mais fáceis (kkkrying) e as novelas das seis estavam passando por uma fase ótima. Acho que o livro conserva essa "leveza" do período, algo que considero importante para desanuviar a mente em pleno 2022, e espero que o livro possa ser um alento para muitos leitores. Quanto à história em si, O fantasma de Cora traz esse sabor de novela das seis girando ao redor de um mistério, como a maravilhosa A Indomada ou Chocolate com Pimenta. Tem um pouquinho de tudo, na verdade: romance, humor, tragédia... Gutinha: Qual a inspiração para criar Portomar, onde a história se passa? Fernanda: Eu gosto muito de romances de época no período da Regência, como os da Tessa Dare. Gosto da atmosfera mais leve e ao mesmo tempo rebuscada. Queria escrever um pouco disso e misturar com uma trama de investigação e alguns fatos científicos (outro bom exemplo seria o trabalho da autora Kerri Maniscalco). Como um dos temas de O fantasma de Cora é o mundo da alta-costura, faria ainda mais sentido usar esse cenário. Mas, ao mesmo tempo, eu não queria criar um pastiche, algo que soasse artificial. Foi quando lembrei das nossas maravilhosas novelas de época que, independente do período, sempre davam um jeito de tornar tudo muito brasileiro, traduzindo dinâmicas e situações para cenas com gosto de tempero de casa (nós tivemos até uma adaptação de Jane Austen, minha gente!). Assim nasceu Portomar, que é esse local fictício perdido no espaço e no tempo onde a estética da Regência ganha toques de Brasil. Gutinha: Que conselho daria para as jovens que desejam se tornar escritoras? Fernanda: Cada caminhada é muito única no universo literário, então não existe de fato uma fórmula dourada. Mas, como já diria um certo livro, existem algumas "verdades universais" que ajudam bastante. A primeira é ser resiliente: é uma carreira demorada, com altos e baixos, e muito provavelmente você precisará lidar com frustrações e encruzilhadas aqui e ali. É normal, vai por mim, e não, não é um sinal do universo para você desistir. A segunda, que é uma consequência da primeira, é não ter medo de tentar. Vejo muita gente se privando de participar de editais, por exemplo, pelo medo da rejeição, por achar que não se encaixa naquele espaço. Mas a) você só vai se aperfeiçoar fazendo; b) mande primeiro e deixe que outras pessoas julguem o seu texto depois e c) aproveite os possíveis feedbacks para melhorar na escrita. Por fim, a terceira é estar sempre observando o que está acontecendo no mercado nacional, desde os livros que estão saindo (tradicionais ou independentes) até os eventos e projetos que podem te proporcionar uma janela de publicação ou aprendizado. Existem exceções, mas é raro que uma carreira possa ser construída nessa área sem estar envolvida com a comunidade de alguma forma. Sou meio suspeita, mas acho que as revistas literárias e as editoras independentes fazem um trabalho fantástico não só na profissionalização de autores, mas também na promoção dessas pontes, de fazer com que um nome chegue aos ouvidos dos colegas, de uma agência ou de uma outra editora. As equipes desses projetos costumam ser sempre muito acessíveis, e é uma boa escutar o que essas pessoas estão dizendo. Um bom ponto de partida, por exemplo, são os podcasts Curta Ficção e Os 12 Trabalhos do Escritor. |
O post mais esperado!!
ResponderExcluirComo sempre muitas novidades que serão incluídas na wishlist!
Arqueiro me levará a falência kkkkk
Eu tô igual a Chelle, esperando esse post toda semana,mas só para passar vontade rs.
ResponderExcluirTá, aumentei mais um no carrinho lá da Amazon rs (culpa sua) mas ainda vou fechar ele, ah se vou.
A Dark tem meu coração todinho e esse livro aí dos Mortos já preciso para ontem.
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Olá Rudy!
ResponderExcluirMuitos livros bons! Minha lista de desejados só aumenta!
Olá! Uau quantas novidades, uma mais legal e tentadora que a outra! Estou de olho nesse novo selo da Arqueiro e tenho certeza de que vai virar queridinho por aqui. Gutenberg e Nemo também chamaram minha atenção com as novidades, já quero para ontem essa fantasia na minha mesa.
ResponderExcluirola
ResponderExcluirOs que mais me chamaram a atençao foram os livros da Livraria Cristã e da Arqueiro .já os da Dark side eu não me interesso.
Olá Rudy!
ResponderExcluirNossa quantas novidades maravilhosas, queria poder compra tudo
Bjs
Queria o livro do Machado de Assis da Darkside.
ResponderExcluirDanielle Medeiros de Souza
danibsb030501@yahoo.com.br