Olá alegres e felizes/!
Bem-vindo ao Meyerverso! 💫 Microssérie - A rosa do amor #02Ele carrega uma reputação temida… e a rosa que Evie jamais deveria ter perdido.© 2025 A. C. Meyer. Todos os direitos reservados. Capítulo 2: O Duque das DespedidasO salão ainda vibrava com música e conversas quando lorde Alexander Blackwood apareceu na entrada principal. A princípio, sua chegada foi quase imperceptível. Uma dama deixou o leque escapar e um cavalheiro interrompeu a frase no meio. Pouco a pouco, porém, todos os olhares se voltaram para o recém-chegado. Era impossível ignorá-lo. Alto, com os ombros largos preenchendo com precisão a casaca preta de corte impecável, o duque de Bedford tinha uma presença que dominava qualquer ambiente sem esforço. Seus cabelos escuros, penteados com uma elegância casual, refletiam a luz das velas, e seus olhos cor de âmbar percorreram o salão com uma expressão de tédio divertido, como se nada ali pudesse surpreendê-lo. — Lá está o Duque das Despedidas — a condessa de Pemberton murmurou para a amiga, abanando-se com vigor. — Três Temporadas sem um noivado sequer. — Ele é um predador social — lady Mackenzie retrucou, franzindo o nariz. — Seduz, dança, faz promessas silenciosas... e some antes da aurora. — Ora, predador? — a condessa rebateu, erguendo uma sobrancelha. — Algumas dessas tolas imploram para ser devoradas... casadas ou não. Os cochichos se espalharam pelo salão como rastilho de pólvora, mas Alexander parecia alheio às reações que provocava ou, talvez, simplesmente não se importasse. Ele adentrou o salão exalando poder, cumprimentou conhecidos, sorriu para as debutantes e parou ao lado de seu amigo mais próximo, o major Marcus Ashford, que acabara de retornar da guerra. — Enfim resolveu aparecer — o major disse, bebendo um gole de uísque. — Já tinha meia dúzia de damas apostando se você viria ou não. — E quanto estava a cotação? — Alexander arqueou a sobrancelha. — Alta o bastante para que algumas mães já tenham escondido as filhas atrás das colunas. — É sinal de que ainda sei como manter minha fama intacta — o duque respondeu, satisfeito. O major Ashford riu, sem humor. — Nunca pensei que fosse sentir falta das batalhas — Marcus murmurou, observando o salão com desdém. — Mas, depois de meia hora aqui, quase prefiro os canhões franceses. — Você sempre teve gostos peculiares, meu amigo — Alexander respondeu, dando um tapinha nas costas do major. O major continuou a falar, mas Alexander já não lhe dava atenção. Seu olhar foi atraído para a pista de dança, onde um animado cotilhão agitava os casais. Entre eles, distinguiu uma jovem de vestido verde-claro sendo conduzida pelo visconde Whitmore. O duque a observou com curiosidade. Ela era belíssima, não se podia negar. Seus cabelos castanhos estavam presos, revelando o rosto delicado e o pescoço fino. No entanto, o que mais o intrigou foi a expressão entediada da dama, algo inesperado para uma jovem que era de família com poucas posses, como indicava o vestido simples que ela usava, enquanto dançava com um cavalheiro que poderia ser considerado um bom partido. Alexander continuou observando-a, encantado com o que via. Pediu licença ao amigo e se aproximou da pista de dança. Em certo momento, o visconde posicionou-se com ela próximo ao lugar onde Alexander estava e ele ouviu um pouco da conversa. — Considero Byron muito mais sincero que Pope — ela comentou, com serenidade. O visconde franziu o cenho, murmurando algo sobre impropriedade. Alexander sorriu ao ver a expressão de desagrado de Whitmore e concluiu que aquela não era uma dama comum, mas alguém que escondia desafio e inteligência por trás da fachada de debutante comportada. Até que um movimento brusco do visconde fez com que o adereço que a jovem dama usava pulasse do vestido e rolasse pelo chão encerado. O acessório vermelho foi empurrado por sapatos apressados e quase esmagado por um salto. Ele olhou para a moça e a viu levar a mão ao peito, o desespero surgindo em seu rosto ao perceber que havia perdido o que Alexander imaginava ser uma joia. Algo bateu contra seu pé e o duque viu o adereço vermelho. Abaixou-se e o pegou, surpreendendo-se ao notar que se tratava de uma rosa seca presa a um pequeno alfinete. Era algo sem qualquer valor financeiro que pudesse provocar aquela expressão na parceira de dança de Whitmore. Ao erguer os olhos, a jovem já não estava mais lá. Ele olhou ao redor e a viu se afastar da pista, deixando o visconde para trás. Alexander girou a rosa entre os dedos, intrigado. Aquela não era apenas uma flor perdida. Era a chave para um enigma que ele não resistiria a decifrar. Percorreu a multidão com os olhos, até encontrar o que procurava. Evie permanecia junto à janela, ainda tentando se recuperar da perda de sua rosa. Ao ver o duque se aproximar, sentiu o coração acelerar. Todos no salão sabiam quem ele era: o herdeiro de uma das fortunas mais antigas da Inglaterra e, possivelmente, o solteiro mais cobiçado e perigoso de Londres. — Acho que esta pequena fugitiva é sua — ele disse, parando diante dela. Seu sorriso era leve, mas seus olhos âmbar tinham uma intensidade que a fez hesitar. Ela fitou o rosto que, até então, só vira de longe. De perto, seus traços eram ainda mais definidos: a mandíbula firme, a expressão calculista. Mas eram os olhos que a intrigavam. Havia neles uma perspicácia tão incômoda que ela teve a nítida sensação de que ele enxergava além de suas palavras. — Vossa Graça — ela disse, fazendo uma reverência graciosa. — Bedford, por favor — ele corrigiu, estendendo-lhe a rosa. — E não me olhe como se eu fosse devorar a sua alma. Vi como a senhorita reagiu quando a perdeu. Não parecia ser apenas um enfeite. Evie estendeu a mão, mas ele puxou a flor de volta com um movimento suave. — Vejo que não se trata de um adorno qualquer — ele disse, com a voz baixa. — Posso saber por quê? A pergunta a surpreendeu e Evie hesitou. Um cavalheiro comum teria devolvido a flor com um comentário banal sobre o tempo. Mas o duque não era comum. — Era da minha mãe — ela respondeu, quase em um sussurro. — A última do jardim dela. A expressão dele mudou. O ar de divertimento deu lugar a uma seriedade repentina. — Então não se trata apenas de uma rosa. É uma lembrança importante. — Ele fez uma breve pausa. — A senhorita confiaria a mim sua guarda em troca de uma dança? Antes que Evie pudesse responder, ele já lhe oferecia o braço. Ela hesitou por um instante, sentindo o peso da decisão. Aceitar significava muito mais do que uma simples dança. Significava ser vista ao lado do homem mais controverso do salão e dar munição para fofocas que poderiam persegui-la pelo resto da Temporada. Seus instintos gritavam para ela recusasse. Mas seu coração não obedeceu. — Eu não deveria dançar com o senhor — ela murmurou, enquanto ele a conduzia para a pista. — E por que não? — Alexander arqueou a sobrancelha, saboreando a provocação. — Todos conhecem a sua fama... — Evie hesitou, sentindo o rubor subir pelo seu pescoço. Deus, como era desajeitada! Não deveria estar lembrando o homem de sua péssima reputação. — Ah, minha terrível reputação me precede — ele respondeu, e o sorriso se alargou. — Diga-me, senhorita, o que dizem sobre mim? — Que o senhor coleciona corações apenas para despedaçá-los depois. Alexander soltou uma risada grave, tão cheia de vida que várias cabeças se viraram para encará-lo. — E diga-me, srta. Hartwell — ele inclinou-se um pouco mais e perguntou com a voz baixa, mas carregada de diversão maliciosa —, acredita mesmo que um cavalheiro que resgatou um item tão importante teria coragem de despedaçar o seu coração? Evie ficou sem palavras. Sua cabeça girava com tantas questões: como um duque sabia seu nome? Por que aquele homem de olhar travesso e reputação terrível se preocupou em resgatar uma simples rosa que tinha significado apenas para ela? Como teve coragem de ser tão indiscreta, falando a respeito da reputação dele? E o que deveria responder, em nome de Deus? — Por que o senhor está aqui? — ela perguntou, impulsiva. — Em um baile, quero dizer. Se os detesta tanto? — Quem disse que os detesto? — ele retrucou, fazendo-a girar com elegância. — A sociedade — ela respondeu de pronto. — Talvez eu esteja aqui pela mesma razão que a senhorita. Procurando algo real em meio a tanta artificialidade. — E encontrou? Ele estudou seu rosto por um longo momento, seu olhar parecendo capturar cada detalhe. — Talvez — ele respondeu, por fim. — Conte-me sobre poesia. — Perdão? — Ouvi a senhorita dizer ao visconde que aprecia poesia. A maioria das jovens prefere falar sobre música ou pintura. Poesia é uma escolha... interessante. Ela sentiu o rubor subir por suas faces. Não se lembrava de ter mencionado poesia para lorde Whitmore. — O senhor estava nos observando? — É difícil não observar quando alguém está sofrendo de tédio mortal — ele disse, curvando o canto da boca. — O pobre Whitmore pode ser muitas coisas, mas estimulante certamente não é uma delas. — Isso é cruel. — Mas verdadeiro. Então? Que tipo de poesia prefere? Ela hesitou. A maioria dos cavalheiros considerava o interesse literário das mulheres desnecessário, quando não inadequado. No entanto, havia algo em sua expressão que a encorajava a ser honesta. — Byron — ela admitiu. — Sei que é considerado escandaloso, mas... — Exato. Pela primeira vez desde que chegara ao baile, Evie se sentiu vista. Não avaliada nem julgada, mas compreendida. Era uma sensação embriagante e perigosa. — Prometo que não falarei sobre o clima — ele disse de repente. — Já não é um começo melhor que o do visconde? Ela não conseguiu conter uma risada. — Muito melhor. — E prometo também não perguntar sobre suas conexões ou perspectivas de casamento. — Sobre o que pretende conversar, então? — Sobre a senhorita — ele respondeu. — A verdadeira Evangeline Hartwell. A intensidade de sua voz apertou o estômago de Evie. Era esse o tipo de conversa que ela sonhava ter, o tipo de conexão que lia em seus romances secretos. Mas também era perigoso. Alexander Blackwood não era o tipo de homem com quem uma jovem sensata se envolveria. Seus olhos encontraram os dele, e por um momento o salão ao redor pareceu desaparecer. Havia algo naquele olhar âmbar que denunciava uma solidão disfarçada, a fadiga de um homem cansado de representar um papel. Ela reconheceu aquela sensação, pois a experimentava diariamente. — Por que o senhor está aqui, dançando comigo? — ela perguntou, com a voz mais baixa. — A verdade, desta vez. Alexander hesitou, e pela primeira vez desde que se aproximara, pareceu vulnerável. — Bailes como este costumam ser exercícios de futilidade — ele respondeu. — São conversas vazias com pessoas que enxergam apenas um título e uma conta bancária. Mas hoje... hoje encontrei alguém que abandonou uma dança respeitável por causa de uma rosa murcha. — E isso significa algo para o senhor? — Significa que talvez a senhorita entenda o que é se sentir estranha em seu próprio mundo. A música começou a diminuir, sinalizando o fim da dança, mas Alexander não se moveu para soltá-la. — Minha rosa — Evie o lembrou, estendendo a mão. Ele sorriu e, em vez de entregar a flor, deslizou-a para dentro do bolso do colete, bem próximo ao coração. — Só a devolverei se me prometer que não fugirá quando eu a procurar novamente — ele disse, com a voz baixa e íntima. — Isso é chantagem. — Isso é uma oportunidade — ele corrigiu, mantendo o olhar firme no dela. — Para a senhorita descobrir se o monstro das fofocas corresponde à realidade... e para eu descobrir se a dona desta rosa é tão singular quanto parece. Evie olhou ao redor do salão. Lady Catherine a observava com olhos faiscantes de inveja, apertando o leque com tanta força que as varetas ameaçavam quebrar. O visconde Whitmore permanecia a uma distância respeitosa, mas seu rosto demonstrava clara desaprovação. Seus pais pareciam nervosos, divididos entre o prestígio de ter a filha notada por um duque e os riscos óbvios que isso representava. Toda a sua vida fora marcada pela cautela, por escolhas seguras e comportamento adequado. No entanto, ali, nos braços do homem mais perigoso de Londres, com sua rosa sendo mantida como refém, Evie sentiu, pela primeira vez, o impulso de fazer algo imprudente. — Prometo — ela sussurrou. Alexander sorriu, um sorriso que transformou seu rosto e fez o coração dela acelerar de forma alarmante. — Então até breve, srta. Hartwell. Ele beijou sua mão enluvada com uma reverência impecável, mas seus olhos nunca deixaram os dela. Em seguida, afastou-se entre a multidão, deixando-a sozinha com o coração disparado e a certeza de que havia acabado de aceitar muito mais do que imaginava. Naquela noite, a srta. Evangeline Hartwell ganhou mais do que as atenções de um duque. E isso era tudo o que bastava para a sociedade transformar aquele encontro em um escândalo. Continua no capítulo 03...
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Bem-vindo ao Meyerverso! 💫 © 2025 A. C. Meyer. Todos os direitos reservados. Capítulo 3: Confissões no JardimApós duas danças, uma quadrilha com um barão que só falava de seus cavalos e um cotilhão com um cavalheiro mais interessado no próprio reflexo nas vidraças das janelas, Evie sentiu o peso dos acontecimentos da noite comprimir seu peito. Apesar de o duque não ter feito nada que pudesse manchar sua reputação, o simples fato de dançar com ele já era motivo para comentários. Ela sentia os olhos dos convidados sobre si, enquanto o espartilho a apertava ainda mais. Sabia que as debutantes comentavam e que as matronas a fitavam com piedade. A pobre tola que se deixou levar pelo Duque das Despedidas. Foi então que a lembrança de Charlotte Fairfax a atingiu com força. A prima, três anos mais velha, participara de sua única Temporada e fora cortejada por lorde Westfield, nada menos que um conde. Evie ainda se lembrava de Charlotte bordando as iniciais “C.W.” em lenços de batista, sonhando em se tornar condessa e dos comentários da família de que essa união salvaria a todos, já que o conde era um homem de posses. Westfield fora atencioso, presente, quase romântico... até desaparecer. Evie não precisou se esforçar para imaginar que o duque de Bedford seguiria o mesmo caminho. Três semanas depois, ele casou-se com uma herdeira francesa cujo dote tornava qualquer sentimento irrelevante. Charlotte voltou para o condado “por motivos de saúde” – um eufemismo elegante para uma reputação arruinada e um coração partido. Ela nunca mais participou de uma Temporada em Londres e, nas raras vezes em que Evie a visitou, encontrou uma mulher amargurada, de olhos vazios e um sorriso que não alcançava o olhar. O burburinho atrás dela a trouxe de volta ao presente. Algumas damas riam baixinho, e ela teve certeza de que falavam dela. O mesmo julgamento que destruíra Charlotte agora se voltava contra ela. Seu estômago se revirou. O salão, antes vibrante, agora lhe parecia uma gaiola dourada. Precisava sair dali. Sem se preocupar em arranjar uma dama de companhia ou avisar seus pais, ela saiu pelas portas de vidro que levavam aos jardins, pedindo licença para quem quer que estivesse ao seu lado. A mudança foi imediata. O ar frio da noite tocou sua pele, e seus pulmões se encheram, livres do aperto da atmosfera opressiva do salão. Os jardins dos Ashford eram um refúgio perfumado. Canteiros impecáveis exibiam rosas de todas as cores: brancas como a neve, amarelas como o sol de verão e rosas cor-de-rosa tão suaves quanto o rubor natural de uma noiva. O aroma natural, intensificado pela umidade da noite, era um bálsamo após horas respirando o cheiro de pó de arroz e velas derretidas. Era como voltar à vida depois de quase sufocar no salão abafado. Ainda era possível ouvir os sons abafados da orquestra, risos cristalinos e o tilintar esporádico de taças. No entanto, no santuário do jardim, esses ruídos pareciam pertencer a outro mundo, distante e quase irreal. O silêncio do jardim a envolvia, quebrado apenas pelo sussurro das folhas. Por um instante, acreditou estar sozinha. Evie encontrou um banco de pedra sob um arco de trepadeiras, sentou-se e, mesmo ciente de não era apropriado para uma dama estar ali sozinha, não se importou. As lágrimas que ela contivera durante toda a noite finalmente caíram, silenciosas, porém libertadoras. Ela não chorava apenas pela rosa perdida ou pela incerteza em relação ao duque. Chorava pela pressão constante de sempre fazer a escolha certa, de nunca decepcionar e de carregar nas costas o peso das expectativas de sua família – um fardo que, às vezes, lhe parecia grande demais para seus ombros tão jovens. — Não deveria estar aqui sozinha. A voz grave e conhecida fez com que seu coração acelerasse. Evie virou-se e encontrou Alexander parado sob o arco de entrada do jardim. Sua silhueta imponente estava recortada contra a luz dourada que atravessava as janelas da casa. Mesmo à distância, ela enxergava a genuína preocupação em seus olhos âmbar. — E o senhor não deveria ter me seguido — ela retrucou, enxugando as lágrimas com as costas das luvas de algodão. — Provavelmente não — ele concordou, aproximando-se com passos firmes. — Mas, quando a vi sair com aquela expressão, não consegui ficar indiferente. Ele parou a uma distância respeitosa, mas perto o suficiente para que ela notasse detalhes que haviam passado despercebidos durante a dança: os reflexos prateados da lua em seus cabelos escuros, a linha firme de seu queixo e a intensidade de seu olhar. — Diga-me o que se passa em seus pensamentos — ele pediu baixinho. Evie hesitou. Toda a sua educação exigia que ela mentisse, alegando o calor do salão ou uma leve indisposição. No entanto, havia algo em sua presença tranquila e na paciência com que aguardava sua resposta, que a encorajou a ser sincera. — Acho que fui ingênua por acreditar que esta noite tinha algum significado — ela confessou, por fim, com a voz baixa. — Amanhã, o senhor acordará e nem se lembrará do meu nome. — E por que pensa assim? — Porque já vi isso acontecer. As palavras escaparam antes que ela pudesse detê-las, trazendo consigo uma dor antiga nunca antes compartilhada. Alexander se aproximou, sentando-se ao seu lado no banco, mantendo um espaço apropriado entre eles. No entanto, o calor de sua presença contrastava com o frio da noite. — Conte-me — ele pediu. E então, pela primeira vez em três anos, Evie falou sobre Charlotte. Falou dos sonhos perdidos, das cartas diárias que cessaram de repente e do silêncio angustiado de uma jovem que descobriu que o amor que julgava verdadeiro não passara de uma ilusão conveniente. — Ela nunca se recuperou de verdade — Evie concluiu, quase sussurrando. — E eu... não posso seguir o seu exemplo. Não posso bordar iniciais em lenços ou alimentar esperanças que talvez existam apenas na minha imaginação. Alexander permaneceu em silêncio por um longo momento. Quando falou, sua voz tinha uma seriedade que ela nunca havia ouvido antes. — Sabe como ganhei a reputação que tenho? — ele perguntou, fitando as próprias mãos. — Por que me chamam de Duque das Despedidas? Evie balançou a cabeça, curiosa, apesar da dor que ainda pulsava em seu peito. — Sempre soube qual era o meu dever: encontrar a dama certa para se tornar minha duquesa — ele explicou, com um tom que misturava resignação e honestidade. — Mas não por ser um libertino, como a sociedade gosta de dizer, ou por elas não serem boas o suficiente. Era porque nenhuma delas enxergava além do título. Todas queriam se casar com um duque, não comigo. — Oh... — Evie murmurou, interrompendo-o . — Por isso eu recuava. Eu sabia que a dama certa não era apenas alguém com quem eu era socialmente compatível, mas que se importava comigo de verdade. Ele baixou os olhos por um momento, como se organizasse os pensamentos e, quando continuou, suas palavras estavam carregadas de uma vulnerabilidade que surpreendeu Evie. — Meu avô arranjou o casamento da minha mãe como quem negocia terras. Ela foi obrigada a se casar com um homem muito mais velho e cruel. Eu não nasci de um ato de amor, mas de violência. Eu era criança, mas me lembro de que não havia brilho em seus olhos. Ela definhou ano após ano, até morrer jovem. — Ele baixou ainda mais a voz. — Até hoje me culpo por acreditar que meu nascimento tirou a felicidade dela. — Não diga isso. A dor da sua mãe não foi culpa sua. Nenhum nascimento rouba alegria... pelo contrário, tenho certeza de que o senhor foi a única dádiva que ela recebeu. Alexander virou-se para encará-la, e seus olhos âmbar refletiam a luz da lua. — Fiz um pacto comigo mesmo: jamais repetiria a tragédia dos meus pais. Preferi mil despedidas a um único “sim” sem significado. Mas esta noite... Sua voz falhou por um instante. — Pela primeira vez, dancei com alguém que viu a mim antes de ver o duque. — Essa noite? — Evie sussurrou. — Encontrei alguém que me olha como se eu fosse apenas um homem. Não um título, não uma conta bancária, apenas... Alexander. Alexander. O nome, dito com tamanha suavidade, apertou o peito de Evie. Ela percebeu que estava segurando a respiração e que o ar frio transformava cada exalação dele em pequenas nuvens de vapor que pairavam no espaço reduzido entre eles. — Como posso ter certeza de que não serei apenas mais uma distração passageira, como tantas outras antes de mim? Alexander ergueu a mão e, com delicadeza, afastou um fio de cabelo que havia escapado do penteado de Evie. Seu perfume de sândalo e bergamota a envolveu como um abraço familiar. Cheirava a lar, a segurança, não a luxo vazio ou artifício. — Porque seu dote, sua linhagem ou suas conexões não me importam — ele disse, com a voz grave e despojada de jogos. — Quero ouvir sua voz doce todas as manhãs e sentir sua mão na minha em todas as danças que vierem pela frente. O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pelos ecos distantes da música e pelo sussurro da brisa noturna entre as folhas. Para Evie, o mundo se resumiu àquele banco de pedra e àqueles olhos âmbar que a contemplavam como se ela fosse a descoberta mais rara de sua vida. — Vossa Graça... — Alexander — ele a interrompeu. — Por favor, me chame pelo meu nome. — Alexander — ela sussurrou, experimentando o som do nome em seus lábios. — Evangeline — ele respondeu, sendo imediatamente corrigido por ela. — Evie... todos me chamam de Evie. — Evie — ele disse. — Minha linda Evie. — A maneira como Alexander pronunciou aquelas palavras fez com que ela se arrepiasse. Ele se inclinou para a frente, e seus rostos ficaram separados por meros centímetros. Evie sentia o calor de sua respiração se misturando à sua no ar frio, criando uma intimidade que era, ao mesmo tempo, aterradora e irresistível. — Posso? — ele perguntou. Seus olhos estavam fixos nos lábios dela, como se buscassem uma permissão final. Evie não respondeu com palavras. O ar pareceu sair de seus pulmões. Um momento de medo e êxtase pairou no espaço entre eles até que ela fechou os olhos e se inclinou para a frente, em uma rendição silenciosa e definitiva. O primeiro toque foi suave, quase hesitante, como se Alexander estivesse testando os limites. No entanto, quando ela respondeu, entrelaçando os dedos nos cabelos dele, o beijo se aprofundou, tornando-se algo que era, ao mesmo tempo, tão real e tão impossível, parecendo ter saído das páginas de seus romances secretos. Evie se surpreendeu com a própria ousadia em retribuir suas carícias, e ainda mais com a intensidade do desejo que a dominava. O mundo desapareceu, restando apenas eles dois, aquele momento e a conexão que parecia ser o que ela sempre buscara, mesmo sem saber. Era proibido, insensato, talvez até perigoso. Mas, naquela fração de segundo, não havia Londres, nem sociedade, nem regras... apenas Alexander. Quando se separaram, Alexander encostou a testa na dela. Ambos respiravam de forma irregular no ar gelado da noite. — Agora você entende por que isso é diferente?— ele murmurou contra os lábios dela. Evie não respondeu. Mas, em silêncio, soube que jamais voltaria a ser a mesma. Uma folha seca deslizou sobre o ombro dela, trazendo-a de volta à realidade. Então, uma criada surgiu no caminho de cascalho, carregando uma bandeja vazia. Ela, porém, baixou o olhar ao ver o casal no banco. O leve tinido da bandeja soou como um alerta: Evie sabia que aquele momento não ficaria em segredo por muito tempo. A criadagem sempre ficava sabendo de tudo primeiro, e os boatos chegariam à alta sociedade antes mesmo do café da manhã. — Agora ela está onde deve — ele disse baixinho, mantendo o olhar fixo nela. A rosa voltara ao seu lugar. E Evie sentiu crescer dentro de si a coragem para acreditar que poderia ser verdadeiramente vista... e amada. O ar noturno carregava não apenas o perfume das rosas, mas também o peso silencioso de uma promessa. Naquela noite, não foi o baile que deu início à lenda, mas um beijo compartilhado sob as estrelas. Continua no capítulo 04...
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cheirinhos
Rudy








Obrigada por esse presente, Meyer
ResponderExcluirOLá Rudy!
ResponderExcluirSou Meyerverso de carteirinha, só posso dizer uma coisa AMEIIIII
Claro que amaria mais micro novelas assim, ainda mais com esse cenário tão lindo e diálogos tão incríveis!!!!
ResponderExcluirFicar esperando as letras da autora, já tem sido tão único!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel
Olá Rudy!
ResponderExcluirAmando essa micro novela, curto muito a escrita da Meyer
Bjs
Gostaria sim de mais microsséries românticas assim . Muito bom ! Obrigada
ResponderExcluirFoi realmente um presente. Que escrita deliciosa!
ResponderExcluirOi, Rudy!
ResponderExcluirFaz tempo que li uma microssérie, mas gosto do estilo.
Bjos!
Oi amiga
ResponderExcluirQue legal a AC lançar histórias curtinhas assim, também gosto bastante, relaxa a gente no momento de correria de leitura.
Bjs