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16/02/2024

DIVULGAÇÃO DE EDITORAS #07 - ALEPH, LER, GALUBA, DARKSIDE, NOVA FRONTEIRA.

 Olá alegres e felizes!


Poucas divulgações das editoras.


01-) ALEPH:



Olá,
 
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Abraços, 
Tripulação Aleph


02-) LER:



03-) GALUBA:


Comece a ler Amor na Adega

leia o primeiro capítulo do nosso próximo lançamento

fb tw in email

Sinopse:

Léonie é uma aspirante a atriz frustrada com a vida. Desiludida, ela está voltando para casa, onde vai trabalhar na vinícola do cunhado cobrindo a licença maternidade da irmã. É para ser temporário, enquanto reorganiza a vida.

O que ela não esperava era que o odioso Enzo agora é mestre de Adega da vinícola. Enzo, o filho da vizinha, o babaca que perturba ela desde sempre, o idiota que vivia inventando histórias escabrosas sobre ela.

Léo consegue se adaptar bem a nova vida, fazendo novas amizades e se reconectando com a comunidade a que pertence. Só uma coisa parece não se encaixar de jeito nenhum: ele. Seria possível se livrar dele de alguma forma? Ou o jeito vai ser aceitar a trégua proposta?

 

Capítulo 1 - Léonie

Ato 1, cena 1

Uma plataforma de trem

A ação que está acontecendo neste momento na plataforma da estação de Draguignan, na região do Var, é totalmente insignificante, talvez até tediosa para os espectadores presentes. Desço do trem e piso no asfalto quente pelo sol de verão, arrastando minha enorme mala preta. Cruzo a plataforma em direção à saída. Não tem câmeras, ninguém está prestando atenção em mim e, no entanto, tento ir adiante com tanta graça quanto Marylin com seus saltos altos em Quanto Mais Quente Melhor. Avanço com a cabeça levantada como se eu estivesse indo conquistar o mundo.

Assisti dezenas de filmes e peças que têm cenas geniais, tocantes e por vezes decisivas que acontecem em estações de trem. Mas, até hoje, meu nome não esteve no cartaz de nenhuma dessas produções.

Neste grande filme da minha vida, essa plataforma de trem está mais para o local que representa meu fracasso e desencanto. Mas não tem nenhum perigo que eu diga isso em alto e bom tom. O que me vem à mente é o oposto: Como tirar proveito dessa situação?

Saco meu celular para fazer o que sei fazer de melhor: fingir. Tiro uma foto bem enquadrada da placa anunciando o destino diante de uma ponta de céu azul sem nuvens, que esconde o lado menos glamouroso do local. Confiro a foto: consegui evitar os fios de luz, está impecável. Aplico um filtro bonito que dá à cena cores perfeitas demais para serem verdadeiras; mas no reino das aparências, a autenticidade não tem lugar. Falta escolher a legenda…

Bem-vindos ao Sul!

Cheio de emoticons em forma de sol, será suficiente para deixar minhas amigas que estão presas no monocromático parisiense, loucas de inveja. Apesar de não estar eu mesma entusiasmada com a situação, ao menos darei a impressão de estar. Nenhuma necessidade de que meus seguidores saibam do meu humor. Porque sim, voltar aqui – sem ser nas férias –, não fazia parte dos meus planos.

Guardo o telefone na bolsa e me ocupo com a alça da mala. A travessia do saguão da estação não dura mais que alguns segundos, não o suficiente para aproveitar o ar-condicionado. Chego ao estacionamento e examino os arredores através dos meus mega óculos de sol à procura do carro amarelo ovo da minha mãe. Não preciso procurar muito. Como se não bastasse o fato de que ela é a única, sem contar o carteiro, que ousa dirigir um veículo dessa cor para que a reconheçamos, ela está do lado de fora, balançando os braços. Só faltavam painéis luminosos.

— Uhu! Léonie!

Eu aceno e, acompanhado de um sorriso nervoso, espero que ela entenda que eu a vi e que ela pode parar com o circo. Me esgueiro entre os carros estacionados de maneira anárquica e a reencontro.

— Bom dia, mamãe — digo, cumprimentando-a com um beijo.

Ela me aperta brevemente em seus braços e declara:

— Bom dia, minha Léo. Tive medo de estar atrasada com todo esse trânsito horrível. Ainda bem que saí cedo.

Essa reflexão me faz sorrir por dentro. Sempre me pergunto o que seria esse “trânsito horrível” a que ela se refere. Certamente um carro que levou alguns segundos a mais para arrancar no semáforo ou o fato de que ela precisou parar um instante atrás de um caminhão que fazia entregas. Esses minúsculos incômodos aos quais a gente nem presta mais atenção quando se vive há tantos anos na região de Paris, como eu. Basta dizer que os engarrafamentos do anel viário nas manhãs dos dias de semana parecem com o apocalipse para a pequena vida rural de meus pais.

Minha mãe agarra com vigor a minha mala e a coloca no bagageiro do carro como se não pesasse nada. Entretanto, eu arrastei a mala por todo o caminho até aqui, inclusive fazendo baldeação entre trens, e tenho lugar de fala para garantir que não é o caso. Viajar com pouca coisa é algo totalmente desconhecido para mim. E desta vez não seria diferente. Ainda mais que estou aqui sem data de retorno, então trouxe tudo o que consegui. Algumas caixas devem chegar por transportadora durante a semana e uma das minhas amigas foi muito simpática ao me emprestar um espaço em seu porão para guardar o que não conseguiria trazer.

Mamãe se instala atrás do volante e aproveito para observá-la. Algumas rugas se juntaram a seu rosto desde a minha última visita no Natal. Estou certa de que ela não usa o creme diurno que eu lhe dei. Ainda estamos no começo do verão e ela já ostenta um bronzeado sólido. Mas não um bronzeado adquirido em uma cabine UV ou numa praia de Saint-Tropez com um coquetel na mão. Está mais para aquele que se ganha sem prestar atenção, aquele próprio das pessoas que passam muito tempo do lado de fora.

Para algumas pessoas, minha mãe e eu somos parecidas. O que é ao mesmo tempo verdade e uma completa mentira. Se temos nossos olhos azuis, nossas mechas loiras e alguns traços do rosto iguais, somos diametralmente opostas no resto. Ela usa o cabelo curto, à la garçonne; pois é prático, diz ela. Ela ama o ar puro, os passeios na floresta, as viagens de motorhome e os piqueniques entre amigos. Quanto a mim… meio que detesto tudo isso. Principalmente o motorhome. Na verdade, minha irmã mais velha Laetitia tem mais paixões em comum com ela do que eu. Quanto à nossa caçula, Lena, que faz dezoito anos em algumas semanas, é um pouco mais difícil saber com quem ela se parece. Acredito que nem ela mesma saiba muito bem quem é. Ela teve uma fase gótica, agora parece que está em uma fase meio emo, mas escuta Katy Perry escondido. Quando a vejo, lembro porque não sinto falta da adolescência, e não é só por causa da acne.

Alguns quilômetros passam e nos encontramos nas ruelas familiares de minha infância em Cadenel, o pequeno vilarejo típico dessa parte do Var, com seu centro antigo dominado pelo campanário da igreja, sua rua de comércio, seus vinhedos que são o orgulho dos habitantes.

Nunca imaginei voltar a morar aqui. Para mim, Cadenel era o lugar que sempre teria um canto especial em meu coração, mas no qual eu não passaria mais do que alguns dias por ano. O tempo certinho de visitar meus pais e minhas irmãs e, por que não, assinar alguns autógrafos no caminho para agradar aos habitantes da vila.

É vergonhoso a quantidade de vezes que já imaginei essa cena. Em vez da recepção calorosa e a carona no Kangoo amarelo ovo da minha mãe, eu chegaria em um luxuoso, mas discreto, sedã preto. Sem muita ostentação, as pessoas daqui não gostam. A multidão estaria se acumulando na praça principal, onde teria sido montado um palanque. Eu daria alguns passos saudando meus fãs tal qual uma miss França (talvez já tenha treinado o movimento em frente ao espelho) e o prefeito me receberia com entusiasmo. Ele faria um discurso listando meus inúmeros sucessos e mostraria o orgulho dos cadenelenses por saberem que eu nasci ali. Eu iria, em seguida, pedir a palavra (eu posso ou não já até ter escrito algumas linhas do discurso) e agradeceria com emoção às pessoas presentes, citando alguns nomes de professores do colégio ou de comerciantes, a fim de mostrar que não esqueci de onde venho. O auge seria o momento em que seria revelada a placa que daria o meu nome à praça da vila: Léonie Fabre. O fato dela já ter um homenageado é apenas um detalhe que, a meu ver, pode facilmente ser resolvido. O general de Gaulle nunca veio à Cadenel; já eu, dei meus primeiros passos e vivi minhas primeiras desilusões amorosas aqui, isso deveria contar, não?

Mas vejam só, por agora, tudo isso continua a ser uma utopia, pois sem contar a minha família e vizinhos, meu agente e o barista que trabalha no café embaixo da minha casa em Paris, ninguém no resto do mundo sabe quem é Léonie Fabre. E vale lembrar que o barista escreve meu nome no copo com no mínimo dois erros a cada pedido.

Meus sonhos de ver meu nome em destaque em um cartaz de uma peça de teatro ou de um filme de sucesso ainda não foram concretizados e só Deus sabe se serão um dia. Por muitos anos, assim como na canção de Aznavour, eu imagino para mim uma vida que está longe da realidade.

É por isso que a minha chegada aqui me deixa tão amarga. Pois, aceitar voltar a viver em Cadenel, é em parte abandonar meus sonhos. Me faz admitir que eu fracassei na minha existência. Me ressinto de ter consentido com essa derrota. Mas era preciso constatar o óbvio: a geladeira não se enche sozinha e esta solução tem a vantagem de ser temporária. Poderia mesmo dizer que a proposta de Laetitia de substituí-la durante sua licença maternidade veio a calhar.

Quando ela falou comigo há algumas semanas, eu estava no fundo do poço. Tinha acabado de saber que mais uma vez eu não tinha sido escolhida para um papel depois de um teste. No entanto, achava que estava no papo. Éramos apenas duas concorrentes. E como em todas as outras vezes, não fui eu a escolhida. A outra atriz era mais talentosa, mais bonita, tinha mais pistolão? Nem mesmo procurei saber, mas eu estava amarga. Por isso, quando minha irmã ligou e me disse que tinha pensado em mim para substituí-la no Domaine de Manons até que ela acabasse de mimar meu futuro sobrinho ou sobrinha, eu a mandei catar coquinhos. Para minha sorte, Laetitia é do tipo insistente quando coloca uma ideia na cabeça. Ela tentou a sorte alguns dias depois, com argumentos muito convincentes, dentre eles o de um belo cheque ao fim de cada mês trabalhado em Cadenel.

Nunca fui muito próxima das minhas irmãs. A Lena é muito mais nova, tanto que não compartilhamos brincadeiras infantis. Já a Laetitia… acho que somos simplesmente muito diferentes. Não é que a gente não se ame, só não temos afinidades. Nos contentamos em crescer lado a lado, sem compartilhar muita coisa além dos jantares de família. Ela montava a cavalo com sua melhor amiga Solène enquanto eu ia às compras com as minhas amigas. É a segunda vez que ela me surpreende em poucos anos. A primeira vez foi quando, há um ano e meio, ela me contou que iria se casar com o Sébastien, o filho do proprietário da vinícola Domaine de Manons. Não foi o fato que ela iria se casar com ele que me surpreendeu, eles namoravam há tanto tempo que o pároco da vila guardava um horário para eles em seu planejamento há vários anos por via das dúvidas. O que me deixou boquiaberta foi quando ela me convidou para ser uma de suas madrinhas. É claro que eu aceitei (existem mesmo pessoas que recusam?), com a condição de que eu poderia vestir o que eu quisesse, e ela rapidamente concordou porque Laeti não se importa com esse tipo de coisa.

Enfim, quando ela insistiu para que eu aceitasse o emprego no Domaine, achei que se ela confiava em mim, eu deveria provavelmente fazer o mesmo. Afinal de contas, ela é quem conhece o trabalho e parecia convencida de que eu seria perfeita para substituí-la. O fato de que a minha única qualificação na área do vinho era ser capaz de apreciar uma taça de rosé em um churrasco de verão não parecia deixá-la preocupada.

***

— Organizei uma festinha essa noite — anuncia a minha mãe quando eu acabei de arrumar minhas coisas.

— Uma festa? — me espanto.

Sabia que eu teria direito a um almoço de família nesse fim de semana com meus pais, minhas irmãs, meu cunhado e vovó Violette, mas uma festa?

— Sim, vem a família, os amigos e alguns vizinhos.

— Para comemorar o que, exatamente?

— Como assim? Seu retorno, ora essa!

— As pessoas querem festejar isso?

Eu não. A ideia de voltar para a casa do papai e mamãe com um emprego arranjado pela minha irmã não me deixa em clima de festa. Melhor seria colar um adesivo de “perdedora” na testa.

Nas minhas fantasias de pré-adolescente, achava que na idade em que estou hoje minha vida teria realmente tomado um rumo diferente. Além do meu sucesso como atriz (que eu não tinha nenhuma dúvida), teria um carro conversível vermelho, uma casa dos sonhos de três andares, patins luminosos e um noivo com uma cabeleira de surfista. E sim, daria festas fantásticas. Agora, preciso admitir que esse futuro só existe para a Barbie e não para mim. Sempre posso me consolar me lembrando que, ao menos, passei férias em um motorhome. Eca!

— Todo mundo quer te ver. Além de permitir que você se reconecte com as pessoas daqui, coloque os assuntos em dia. Você saiu daqui há tanto tempo.

Tenho vontade responder que se eu precisasse de uma atualização das fofocas da vila, bastava me instalar na varanda do Bar de la Place, gerenciado pelo Jules, o irmão da Solène. Em menos de uma hora já saberia todas as fofocas que perdi no tempo que não estive por aqui. Mas assim que percebo o brilho nos olhos de minha mãe, entendo que é importante para ela, então decido não reclamar mais.

— Você tem razão, é uma boa ideia — sorrio enquanto por dentro suspiro com irritação.

O que é que a gente não faz para agradar nossa mãe?

 

Capítulo 2 – Léonie

Mesmo eu não me importando com o que terá para comer esta noite, o oposto é verdadeiro para a mamãe. Ela está levando a pequena confraternização muito a sério. Por isso eu me encontro acompanhando-a no supermercado duas horas mais tarde. Não ia ser egoísta a ponto de deixá-la sozinha para lidar com toda a confusão, além disso, a verdade é que eu não tenho nada mais para fazer. Não tenho muitos amigos em Cadenel e, como só começo no meu novo emprego na segunda-feira, estou com o fim de semana livre.

Logo depois que chegamos no mercado, para não perder muito tempo, decidimos nos separar. Percorro o corredor das frutas e legumes, com o nariz enfiado na lista feita pela mamãe, quando eu escuto alguém se dirigir a mim:

— Não acredito! Léonie, é você mesmo?

Uma morena pequena empurrando um carrinho cheio até a borda e ostentando uma barriga redonda como se ela tivesse engolido uma melancia inteira está acenando para mim. Levo alguns segundos para reconhecer uma das minhas amigas de colégio.

— Jessica! Que surpresa boa.

“Surpresa”, sim. “Boa”, é um pouco exagerado. Mas é o que se diz neste tipo de situação, certo? Coloco meu melhor sorriso nos lábios. Sei que ele é bem convincente, eu já treinei na frente do espelho por horas e mais horas.

Jessica contorna o carrinho com tanta facilidade quanto a sua circunferência imponente a permite.

— Me conta amiga, você voltou para ficar uns dias conosco? Férias? — ela me pergunta antes de emitir um risinho cristalino muito perfeito para ser sincero.

Sabia que ia ser alvo de perguntas constrangedoras, contudo achava que teria algumas horas de descanso. Minha primeira inquisidora já está aqui, entre as batatas-doces e as berinjelas.

— Na verdade, vou ficar o verão inteiro.

Como não tenho vontade de me demorar no assunto, desvio o rumo da conversa:

— E você? Tenho a impressão de que as coisas vão muito bem…

Ela abre um grande sorriso. Se tem uma coisa que tenho certeza é de que mulheres grávidas adoram falar dos seus bebês. E se me lembro bem, Jessica adora falar dela mesma, então devo ter um momento de paz.

— Sim! Estou casada há três anos e a família vai crescer ainda mais daqui a um mês, como você pode ver. Não estou dormindo muito, mas vai valer a pena. É nosso terceiro — ela esclarece apontando a barriga. — Nós já temos gêmeos.

Uau! Quem disse que os pequenos vilarejos estão se despovoando?

— Preciso dizer que você está resplandecente — comento.

É sincero. A grandeza do abdômen só acrescenta, pois a pele dela está limpa, os cabelos brilhantes, ela veste sandálias adoráveis e um vestido que quase me dá vontade de estar grávida para poder comprar o mesmo. Isso me irrita de alguma maneira. Jessica era minha amiga, em teoria; mas acredito que, com o tempo, nós passamos a nos detestar cordialmente mais do que qualquer outra coisa. Antes isso não me incomodava, afinal eu era mais popular do que ela. Mas agora…

Jessica faz uma pequena careta acompanhada de um gesto de mão que significa: Você está dizendo bobagem, mas vejo que o elogio lhe agrada. Também percebo de passagem o enorme diamante que adorna seu anular.

— Pierre-Louis sempre quis uma família grande. Ele me diz que eu nunca estive tão bonita quanto grávida.

Pierre-Louis, o geek meio magricela do nosso colégio? No momento em que estou prestes a perguntar (com uma descrição um pouco mais lisonjeira do marido, de qualquer forma), um homem se coloca ao lado dela com um carrinho duplo. Este é ocupado por dois mini humanos que parecem ser clones de seus pais. A menininha tem o mesmo corte de cabelo perfeito que a mãe, com a diferença de que um lacinho azul marinho segura a sua mecha da frente. O menininho está usando a mesma camisa polo que o pai e pequenos óculos redondos que lhe deixam muito fofo.

— Léonie Fabre? Que surpresa!

O marido de Jessica se dirige a mim, o que me confirma que ele é mesmo o Pierre-Louis que eu achava. Só que ele não tem mais o físico de um aspargo que tinha na época. Ombros largos e bíceps que forçam o tecido de sua camisa, parece que o geek andou treinando na academia nesses últimos anos. A não ser que sejam todas as horas carregando os bebês no braço? Em todo caso, quem teria acreditado que o patinho feio se transformaria em cisne antes dos trinta anos? Eu com certeza não.

Ele me dá um sorriso e beija os cabelos da mulher, antes de colocar uma mão terna em seu ombro. Tenho na minha frente a imagem de uma família perfeita. Estou certa de que eles ficariam lindos em um cartão de Natal com suéteres combinando.

— E você, Léonie, o que tem feito? — me interroga Jessica.

— Bem… não sou casada, não tenho filhos — começo.

E sou uma atriz desempregada…

— Começo um trabalho novo na segunda no Domaine de Manons — digo em vez do que pensei.

— Ah, sim! Cruzei com a sua irmã no curso de preparação para o parto. Ela me disse que você vinha substitui-la. É muito gentil da sua parte, colocar sua carreira de lado durante alguns meses por eles — ela acrescenta com admiração na voz. — Mas você tem razão, não tem nada mais importante do que a família.

— Não, nada é mais importante do que a família — repete Pierre-Louis acariciando o ombro dela.

Eles trocam um olhar repleto de amor e eu quase tenho uma overdose.

— Então, você está morando onde? — pergunta Jessica.

— Na casa dos meus pais — confesso a contragosto.

Ainda não esgotaram as perguntas? Eles não têm nada mais importante para fazer? Tipo dar à luz? Fazer um ultrassom? Comprar o enxoval?

Para minha sorte, os pirralhos deles parecem entender meu sofrimento e começam a se agitar no carrinho.

— Vamos ter que ir embora, mas de qualquer maneira, foi ótimo te ver. Você deveria passar lá em casa um dia desses — acrescenta Pierre-Louis.

Para ir contemplar de perto a vidinha perfeita de vocês? Não, obrigada. Tenho certeza de que eles têm um labrador e um gramado perfeito que Pierre-Louis deve aparar com o torso nu nos fins de semana. Não vou me infligir isso.

— Boa sorte com o seu novo emprego — diz Jessica.

— Uma boa hora para você — respondo.

Espero que você sofra dores atrozes.

Essa conversa mais me contrariou do que qualquer outra coisa. Meus amigos do colégio se casaram e levam vidas de adulto enquanto eu estou bem longe disso. Meu maior compromisso até hoje foi o que eu fiz com a minha operadora do celular. É um tanto patético.

Continuo minhas compras tentando focar na lista que minha mãe me deu mais do que no meu encontro com Jessica e Pierre-Louis. Tomo até o cuidado de examinar cada tomate antes de colocá-los na sacola. Depois de pesar, tiro um tempo para colar corretamente a etiqueta por cima e volto em direção ao meu carrinho. Problema: ele não está no lugar onde eu deixei.

Olho em volta, alguém deve tê-lo deslocado. Mas rapidamente percebo que ele não está em lugar nenhum. Começo então a verificar as pessoas que estão empurrando um carrinho. Alguém deve ter pego achando que era o seu. Só pode.

Vejo um homem de costas com as mesmas garrafas de suco e os mesmos pacotes de chips que eu peguei mais cedo. Ando em sua direção, mas ele também vai para frente e se distancia de mim com facilidade. Ele tem 2 metros de pernas no mínimo! Ainda por cima, como se não bastasse, metade das pessoas fazendo as compras nessa loja parecem ter decidido se colocar no meu caminho.

— Ei! — digo na intenção de deter o ladrão de carrinhos.

Se eu tivesse sorte na vida, teria que lidar com uma vovó com os passos tão rápidos quanto os de uma lesma, mas foi preciso que eu encontrasse o Usain Bolt dando uma volta no supermercado.

É claro que todo mundo virou a cabeça na minha direção menos ele.

— Ei! Você aí, com a camiseta e o boné azul! — grito um pouco mais forte.

Desta vez, o homem para e se vira. Alguém passa na minha frente, bloqueando a minha visão, preciso de mais alguns segundos para cruzar com o seu olhar. Mas assim que isso acontece, percebo uma coisa: ele está longe de ser um estranho.

 

Capítulo 3 – Léonie

Sou alvo de um olhar desdenhoso e com mais cólera do que o século XIX; as infames maçãs-do-rosto latinas e proeminentes, as sobrancelhas grossas que, nesse momento, se franziram em uma careta de desgosto. Seu rosto está em parte encoberto pelo boné, mas sei exatamente como ele é. Mesmo que faça seis anos que não o vejo de perto, tive que suportar a sua ignóbil presença em minha vida dos meus 0 aos 18 anos.

Enzo Deluca.

Nosso vizinho.

Meu pior inimigo.

Aliás, o sorrisinho sarcástico que se abre no rosto dele me indica que ele está tão contente quanto eu com esse reencontro. O que quer dizer nem um pouco.

— Esse carrinho é meu — anuncio sem preâmbulo.

Meu tom é tão frio que a Antártica pareceria um paraíso tropical.

— Boa tarde para você também, Léonie.

O tom com que ele fala meu nome deixa excepcionalmente irritada. Mas não vou me humilhar reconhecendo minha falta de educação.

— Eu adoraria ter meu carrinho de volta, Enzo — respondo colocando uma mão sobre o objeto em questão, mas prestando bastante atenção para ficar o mais longe possível da mão que o segura.

Sempre alerta, esse é meu mantra quando estou em sua presença.

— Não posso te ajudar, não sei onde está.

— Ah, sabe sim, visto que você está empurrando ele, Enzo.

Uma de suas sobrancelhas se ergue e seus olhos lançam raios.

— Você tem certeza, Léonie?

Meu olhar se desvia do dele para enfim analisar o conteúdo do carrinho: suco de frutas, chips, bananas, cervejas, desodorante… masculino, creme… para barbear?

Merda!

— Então Léonie, é esse o seu carrinho? Você tem certeza? — ele pergunta.

Não quero encará-lo nos olhos. Sei exatamente como é o ar vitorioso que ele deve estar ostentando. Em vez disso, fico olhando feito besta para as compras dele. Compras irritantes, se querem saber a minha opinião. Lasanhas e pizza congelada? Patético. Em especial quando se sabe que a mãe dele, Rita Deluca, de origem italiana, é uma das melhores cozinheiras que eu conheço. Só se ela finalmente entendeu a verdadeira natureza da sua prole e se recusa a alimentá-lo desde então. Se esse for o caso, ela não aceitou nem o receber em casa. Assim como eu, Enzo saiu de Cadenel depois do vestibular. Só Deus sabe o que ele veio fazer aqui nesse fim de semana e eu é que não vou perguntar. Por outro lado, uma ideia me vem à cabeça, e ela não é totalmente sem sentido quando penso em sua natureza pérfida.

— Quem me garante que você não roubou meu carrinho e acrescentou alguns produtos masculinos para tentar me enganar?

Ele me observa por um segundo e… cai na gargalhada.

Seu riso é grave e muito desagradável e o fato de que ele me sacaneia abertamente é muito, muito irritante.

— Ah, Léo, você não gosta mesmo de estar errada.

— Não acontece comigo com frequência.

Embora, neste caso, estou começando a duvidar de mim mesma. O fato dele usar meu apelido é exasperador.

— Você não acha que aquele dali deve ser o seu? — ele pergunta apontando um outro carrinho um pouco mais longe.

De fato, ele se parece um pouco com o meu, com alguns itens a mais. Então vou em direção ao tal carinho e sinto que Enzo está bem atrás de mim, o que me irrita ainda mais. Ele não podia se contentar em continuar com suas compras como se nada daquilo tivesse acontecido e desaparecer de vez da minha vida? Não, ao contrário, ele se permite especificar os produtos do carrinho tocando-os com suas mãos grandes e cheias de dedos. Vou ter que lavar tudo com desinfetante quando chegar em casa.

— Vejo que seus problemas de incontinência não se resolveram — ele diz se empossando de um pacote roxo que não me lembro de ter pego.

Aliás, o conteúdo do carrinho é ao mesmo tempo familiar e diferente. Eu lhe arranco o pacote das mãos e vejo com horror se tratar de fraldas geriátricas.

— É…

Me apresso em lhe dizer alguma coisa sobre como devem ter me roubado o carrinho, o que também explicaria seu deslocamento misterioso. Mas eu sou cortada por minha mãe que surge do nada.

— Enzo Deluca, que surpresa boa!

A expressão constipada e zombeteira desaparece do rosto do meu vizinho de infância, ele abre um grande sorriso antes de se virar para ela.

— Michelle!

Eles trocam um beijo de cumprimento e esse bajulador de meia tigela não se furta de acrescentar:

— Se Léonie não estivesse bem ao meu lado, eu poderia te confundir com ela. Você está resplandecente, parecem duas irmãs. Você mudou o corte de cabelo?

Minha mãe se deixa levar por conversinha barata, mas eu sei o que ele quis realmente dizer: eu que envelheci. Aliás, o sorrisinho satisfeito que ele exibe me confirma isso.

— Oh, você é adorável, Enzo, mas está exagerando — diverte-se minha mãe lhe dando tapinhas no braço.

Enzo lhe dá uma piscadela o que deixa mamãe levemente vermelha. É patético. Reviro os olhos, completamente aflita, mas não tenho tempo de remoer esse sentimento, pois ela acrescenta:

— Sua mãe te falou da festinha para a Léonie que estamos organizando essa noite? Você devia vir.

Antes que ele tenha tempo de abrir a boca, me antecipo:

— Enzo estava me contando justamente que ele já tem uma coisa marcada para esta noite.

Ele me lança um sorrisinho que significa: Ah, é? Eu disse isso? E eu me dou conta nesse instante do meu erro. Ao passo que ele teria provavelmente declinado o convite com educação (pois, concretamente ele não tem nenhuma razão para aceitar, a gente se odeia), ele vai ter um prazer malicioso em me contradizer.

— Acho que eu consigo remarcar meu compromisso. Obrigado pelo convite, Michelle. Devo levar alguma coisa?

— Não desfaça todos os seus planos por mim, Enzo. Se você está aqui apenas pelo fim de semana, duvido que não tenha um monte de gente que você deve querer encontrar. Nós já nos encontramos aqui.

Abro um sorriso maroto que, espero, parecerá simpático do ponto de vista da minha mãe.

— Para falar a verdade, não tenho nada de especial programado para hoje à noite — ele responde imitando a minha expressão facial.

— Você deve ter um velho amigo que te espera, uma antiga namorada para reencontrar?

Seus olhos se fixam em mim e acredito detectar diversão, mas a impressão é fugaz.

— Não tenho nada mais importante para fazer do que celebrar o retorno da minha vizinha preferida a Cadenel.

— Ah, perfeito. Então, até a noite, Enzo. Venha Léonie, precisamos terminar as compras, que ainda tenho umas coisas para pegar para a vovó Violette — diz mamãe.

Enzo se inclina em minha direção e, por um instante, me pergunto o que ele pretende fazer. Petrifico. Ele não vai me dar um beijinho! Mas não, sua boca se aproxima da minha orelha; e um instante depois, sua voz grave ressoa:

— Não esqueça de trocar a fralda antes da festa.

Ainda estou com o pacote de fraldas na mão. Em tempos normais, eu o teria lançado na cara dele, mas é preciso autoconhecimento para admitir que meus reflexos não estão tão bons hoje em dia.

— Babaca.

— Eu sei — ele responde me dando uma piscadela antes de se afastar.

Um pouco mais tarde, minha mãe me explica que foi ela que pegou o carrinho enquanto eu conversava com a Jessica e que ela colocou algumas compras que tinha feito para a minha avó. Me dou conta, enquanto ela fala, que Enzo não pareceu surpreso com a notícia da minha volta à Cadenel; ele até parecia estar sabendo antes de me encontrar.

— Mamãe, foi você que disse ao Enzo que eu voltaria a morar aqui?

Ela me olha de lado e responde:

— Não, deve ter sido a Rita. Ela sabia, evidentemente.

Tendo em conta que todo mundo da vila se conhece e que não existe mais do que uma dezena de metros entre nossa casa e a dos Deluca, não é de se espantar. Ainda mais que meus pais e eles são grandes amigos… que é a minha grande maldição.

fbigin


04-) DARKSIDE:


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05-) NOVA FRONTEIRA: 


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