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25/06/2017

RESENHA #40 - ”O QUE NÃO EXISTE MAIS” (LITERATURA NACIONAL) - KRISHNA MONTEIRO



LIVRO:”O QUE NÃO EXISTE MAIS” (LITERATURA NACIONAL)

AUTOR:KRISHNA MONTEIRO

EDITORA:TORDESILHAS

PÁGINAS –112

1ª  EDIÇÃO 2015

CATEGORIA: LITERATURA BRASILEIRA

ASSUNTO: CONTOS

ISBN: - 978-85-8419-027-0

 O QUE NAO EXISTE MAIS



CITAÇÃO:

“[...] Não, o espelho traz consigo um veredicto: tu, pai, estás encerrado em mim. Olho para o corredor. O último lustre se apaga. E, ao deitar em minha cama, na última, derradeira vez que te vi depois de tua morte, dou-me conta, pai concluo, pai, que tu sempre haverás de existir. Boa noite. E adeus.” (pág. 22)



“A fumaça do incensário flutua rumo ao teto da igreja, como se buscasse, por entre os vãos e as rachaduraas da abóbada, uma frsta por onde fugir. Bocas e braços se enfileiram diante de um vulto pálido, e um a um os discos de trigo deslizam do cálice para a mão, da mão para as mãos, e felás para a saliva e a memória, nas quais se dissolvem. [...]” (pág.27)



ANÁLISE TÉCNICA:



-CAPA-



Um coração entalhado em madeira.

A capa é bem bonita, apesar de simples.

Imagem de capa: lynea/Shutterstock.com

Feita por: Andrea Vilela de Almeida.



NOTA: 4,80 de 5,00



-DIAGRAMAÇÃO:



As páginas são amareladas com letras pretas de tamanho mediano.

Conteúdo: sumário; apresentação feita por Noemi Jaffe; dedicatória; sete contos com títulos e citações que inserem o assunto abordado; e, agradecimentos.

Diagramado pela Alaúde Editorial Ltda.



NOTA: 4,80 DE 5,00



- ESCRITA:



A escrita é feita em forma narrativa dissertativa em primeira pessoa (na maioria dos contos), com linguagem culta e  mais rebuscada, uma prosa onírica com construção poética.

As frases são curtas e alguns sem parágrafos, todo corrido.

É o ponto alto da leitura, onde além dos protagonistas, há animais que narram suas histórias por um ponto de vista diferenciado do humano. Se utiliza de analogias e metáforas.

Não foi encontrado erros na escrita.

Revisão: Márcia Moura.



NOTA: 5,00 DE 5,00





CITAÇÃO:

“[...] No escuro, ele se viu cercado por olhos curiosos, cintilantes, pequeninos: olhos em tudo distintos destas duas órbitas chamejantes que – ele sabe – querem hoje, nesta tarde, e a todo custo, destruí-lo. [...]” (pág.38)



“Aninhado entre três mulheres, vejo-a sacar um caderno do bolso, tomar uma centa e p^r-se a escrever sofregamente. O sol pousa na superfície de seus papéis. O canto do oceano sobe um tom, como uma música de fundo. [...]” (pág. 53)



SINOPSE:



“Krishna Monteiro é um escritor excepcional no modo como maneja as palavras e trata seus temas: memória e desajuste, solidão e renascimento. O tema da memória é adiantado no título e se desenrola ao longo dos sete contos do livro. Em "O que não existe mais", um filho é perseguido pela imagem viva do pai: "Na primeira vez que te vi depois de tua morte, tu estavas na sala, de pé em frente à minha estante e aos meus livros". Usando artifícios narrativos como o sonho dentro do sonho, Krishna enreda leitor e personagem numa miragem, como aquelas com as quais nos deparamos quando achamos ter visto alguém já falecido no rosto do familiar dele.Em "Quando dormires, cantarei", o embate entre passado e presente acontece mesmo numa arena. A densidade espetacular do conto é construída pelo ponto de vista inusitado do narrador - um galo de briga - e pelas descrições primorosas esculpidas através dele. No tormento da batalha, em meio ao sangue derramado, o narrador-protagonista põe-se a rememorar a própria história - e cada passagem dela pode ser interpretada como uma releitura da jornada do herói dramático, que encontra no passado a explicação e a motivação para sua vida atual. "Monte Castelo" retoma a questão familiar, mostrando avô e neto às voltas com as brigas em família. O neto, que no início do conto ainda é um menino, é o narrador. A desarmonia entre a mãe e a avó do garoto é provavelmente o combustível inicial da afinidade entre avô e neto. O avô leva a criança em passeios pelo bairro da pequena cidade onde mora com a esposa, a fim de deixar mulher e filha a sós para discutirem a conturbada relação. No entanto, a dissonância entre as duas invade cada vez mais o espaço do menino, e suas visitas à cidade dos avós é interrompida pela mãe. Quando volta, já mais crescido, ele vê o lugar com outros olhos. O momento é de uma expressiva familiaridade para o leitor: a maioria de nós já revisitou um lugar da infância apenas para se dar conta de como ele era diferente daquilo que imaginávamos. Seria essa diferença causada pelo tempo ou pela inevitável distorção de nossa memória, que seleciona, combina e recombina elementos, criando uma noção particular de realidade?É por meio da memória que se reproduzem histórias, como bem sabe o autor, que explora o universo de sua transmissão oral em "Alma em corpo atravessada". No conto de encerramento do livro, o narrador, junto a outras crianças, ouve à noitinha e ao pé do fogão casos narrados por uma mulher sem nome que, como acompanhamento, mexe as mãos sobre as chamas, produzindo sombras ilustrativas. A doença dela, entretanto, interrompe a diversão, e com o tempo as crianças vão deixando a casa. Anos mais tarde, o narrador revisita o lugar, que abriga as lembranças afetivas de outrora; os elementos do espaço são "cântaros para o interior dos quais fluiu, durante anos, sem que percebêssemos, a memória do que se disse e encenou entre as paredes". Embora a solidez da estrutura de uma casa remeta a algo acabado, fechado, a memória se caracteriza exatamente pelo contrário: está eternamente recontando a si mesma, dando novo significado a momentos, lugares e pessoas que já não existem mais - mas que, num inerente paradoxo, estão a renovar sua existência a cada lembrança.



CITAÇÃO:

“Também havia as manhãs de névoa em que as mãos de meu avô eram meu único ponto de apoio. Saíamos logo cedo, bem antes do café, os restos da madrugada se debatendo contra o sol. [...]” (pág. 59)



“[...] implorando meu Deus do céu, me deixe sair e para sempre serei teu servo; [...] (pág. 92)



RESUMO SINÓPTICO:



O livro traz sete contos que aparentemente não tem conexão uns com os outros, entretanto, trazem sentimentos similares: um passado de nostalgia e lembranças amargas; sentimentos de perda, grande melancolia, arrependimento e remorso.

CONTOS:

O QUE NÃO EXISTE MAIS – Pai falecido que assombra o filho através de suas lembranças e do gosto pelos livros.

AS ENCRUZILHADAS DO DOUTOR ROSA – Fala sobre querer algo e se deixar levar pelo desejo, é uma homenagem a Guimarães Rosa.

QUANDO DORMIRES, CANTAREI – As desventuras e sensibilidade de um galo de briga.

UM ÂMBITO CERRADO COMO UM SONHO – Um sonho dentro de outro narrado pelo gato.

MONTE CASTELO – Relata desentendimento entre o neto e o avô que se amam e vivem discordando.

O SUDÁRIO – Conto mais curto e mais profundo, traz analogias sobre o suicídio e a libertação dos pensamentos negativos que rodam a mente humana.

ALMA EM CORPO ATRAVESSADA – tem relação com o galo, uma contadora de histórias que mostra a dificuldade do ofício literário, já que mistura realidade e ficção e traz analogia com as vontades de deixar o legado para quem lê.



CITAÇÃO:

“[...] Amanhã, quando findar esta sessão, quando vocês que compõem minha audiência forem embora, fecharem a porta e estas páginas, escreverei; tomarei nota; darei sequência à luta herdada; apoiado por volumes, livros; absorto como os que exploram pergaminhos; como uma ave que levanta, bate as asas e alça o peito, canta e renasce; como uma pele dura e descarnada, esfolada como um veio que se escava e do qual se extrai a seiva que nos nutre.” (pág.107)



ANÁLISE CRÍTICA E DO AUTOR:



Devo dizer que o livro embora seja curto, é profundo e intenso; exige atenção, concentração e dedicação na leitura, para que não se perca os detalhes descritos nas entrelinhas que demonstram todo sentido da perda que causa o vazio, traz uma tristeza devido as lembranças e memórias melancólicas, por se saber que não existirão mais tais lembranças em nossas vidas.



O leitor pode ou não se identificar, já que alguns contos, mesmo ficcionais, trazem situações cotidianas e de relação familiar, brigas, discussões, devaneios, relacionados a pessoas que se amam. O livro tem um sentido mais amplificado e profundo, diante das mensagens subliminares descritos pelo autor e trazem um sentimento de tristeza, uma melancolia póstuma após a leitura e grande reflexão sobre tais mensagens.



As interpretações são feitas de acordo com as experiências individuais, podendo assim, trazer várias vertentes emocionais e todas trazem de alguma forma, certo entendimento interior. E não é um livro de fácil leitura, porém é um livro delicado, sensível e de certa forma poético que toca fundo as almas mais sensíveis e sensibilizadas pelas vicissitudes que a vida traz.

É um livro para ser degustado aos poucos, de reflexão profunda e sentimentos profundos, entranhados na alma...





NOTA : 4,00 de 5,00

Emoticon triste




SOBRE O AUTOR:



 Resultado de imagem para AUTOR KRISHNA MONTEIRO

Krishna Monteiro nasceu em 1973, em Santo Antonio da Platina, no Paraná, e esteve rodeado de livros desde pequeno. Depois de graduar-se em economia e obter um mestrado em ciências políticas, optou por entrar na carreira diplomática, em 2008. Foi editor de textos literários da revista Juca – diplomacia e humanidades, publicada anualmente pelo Itamaraty, e cocriador do blog Jovens Diplomatas. Em 2010, tornou-se vice-chefe de missão da embaixada brasileira no Sudão. Morando pela primeira vez em terras estrangeiras, foi tomado por lembranças de outras paisagens e cenas de infância escondidas na memória, e começou a escrever contos, em parte inspirados em sua própria história, em parte inventados, que resultaram no livro O que não existe mais. Atualmente, é Cônsul Adjunto do Brasil em Londres. O que não existe mais é sua estreia como escritor.

Cedido e indicado pela Oasys Cultural.


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