MALUCO????
Lá estava novamente em busca de algo, sem saber o que desejava com precisão. Sabia apenas da insatisfação sentida.
Outro dia vislumbrava ao nascente. Trazia consigo nova esperança de rumo. (Qual rumo?)
Permitia a nau da vida singrar os dias sem prumo, sem destino... Vagava com ela sem concretude.
Preferia fantasia fora do realismo à realidade dolorosa do vácuo, oco, abominável, que era viver. Viver não! Sobreviver, sem lógica aparente. Triste, muito triste.
O vento batia nas velas molhadas e gastas pelo tempo, empurrando a embarcação para o mundo da divagação etérea, para as nuvens branquinhas e puras.
A viagem mental avançava. Imaginava criaturas inexistentes, híbridas em formas, cores, tamanhos e atitudes. Nada era tão simples como parecia ou tão complicado quanto aparentava. O final era como desejava e dependendo do humor, poderia variá-lo: hora bom (o seu preferido), hora ruim, distorcido, tosco...
Ouviu o chamarem. Momento de retorno ao suplício do real. Tanto vagava pela imaginação criativa que temia um dia não conseguir retornar a consciência, permitindo-se flutuar na eternidade lúdica do devaneio. Tinha medo, ainda assim, concedia ao efêmero penetrar o inconsciente e ía... fugia.
Voltou! Triste instante , no entanto, necessário. Consideravam-no insano e não o gênio construtor de mundos paralelos. Precisava manter-se cônscio a vista do realmente loucos. Eles sim eram os loucos. Preferiam as atrocidades, os crimes, a maldade, o exílio em suas casas e escritórios, o vínculo aos prazeres materiais à liberdade dos países imaginários, onde tudo se podia, até ser herói de suas batalhas interiores.
Cantarolava baixinho a música favorita, não aos gritos, não aos berros, baixinho. Sentia as vibrações e acordes, permitia-se o enebriar dos sons delicados que dopavam os sentidos e o transportava a realizações em êxtase, preenchendo cada poro com a fluidez cadenciada da cantiga. O corpo acompanhava o ritmo e balançava no mesmo compasso interativo. Estava lá novamente em devaneio...
- Acorda maluco! – gritaram ao longe.
Olhos arregalaram-se com o susto. E era a ele que chamavam de maluco... e quem grita daquela maneira é o que?
E nesse vai e vem entre a realidade cruel e a imaginação distorcida que, um dia, deixou o barco avançar na abissal profundeza da escuridão real e perdeu-se na nublação da clareza de sonhos irreais. Não mais voltou, encontrando finalmente o que procurava.
Satisfeito, adormeceu pleno, saciado pela volúpia arrasadora que arrebatadoramente o invadiu, desvendando, enfim, o rumo certo a seguir livre.
Escutava agora apenas as liras distantes. Os ventos que tocavam as velas da nau, tornaram-se apenas sussurros. Abdicou do corpo e tragado pelo cheiro do vento que suspirava singelo em sintonia inigualável...PAZ!!!!
E a ele que chamavam de maluco, encontrou, finalmente, o caminho lúcido da realização interior.
(Rudynalva)
Boa tarde!
O que acharam? Deixem sua opinião para que possa aprimorar meus escritos. Obrigada!
Tenha uma semana cheia de luz e paz!
cheirinhos:)
Rudy
PS: Lembrando que comentando aqui, ganha chance extra nos sorteios.
Rudy, achei que você tem uma narrativa excelente e sabe como utilizar as palavras, fiquei realmente encantada! Você deveria pensar seriamente em escrever um livro! Parabéns!
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