|
Sinopse: |
O coração lembra, mesmo quando a mente esquece. |
Lando Minha inspiração se foi, e eu não componho nenhuma música há mais de um ano. Sempre que fecho os olhos, só consigo ver Dawson. Foi apenas um final de semana mágico, nove anos atrás, pouco antes do Queda Vertiginosa sair para a turnê mais importante da nossa carreira. Eu tenho certeza de que ele é minha alma gêmea, mas talvez esse romance só tenha existido na minha cabeça. Mas, agora que a banda está implodindo, vou procurá-lo para descobrir se ele é realmente o homem da minha vida.
Dawson Uma lesão cerebral traumática há nove anos me deixou surdo e embaralhou e apagou a memória dos primeiros vinte anos da minha vida. Quando um dos maiores astros do rock bate na minha porta e parece me conhecer, não sei bem no que acreditar. Será possível que ele esteja falando a verdade ao dizer que é apaixonado por mim há nove anos, mesmo que eu não consiga me lembrar de sequer conhecê-lo?
*** Sinta a Música é o segundo livro da Série Replay. Todos os livros da série focarão num membro diferente da banda tendo uma segunda chance no amor. Os livros são independentes e complementares. |
|
|
|
|
Faixa 1: Lado A |
Lágrimas de uma Inspiração |
Lando |
As folhas em branco me provocam cruelmente. Não importa quantas vezes coloque a ponta do meu lápis no papel, ele continua em branco. Você já sentiu como se toda a sua vida dependesse da sua habilidade em fazer alguma coisa que, de repente, não é mais capaz? Não que eu vá morrer se não conseguir escrever. Mas, se não conseguir, a banda estará morta, e eu posso muito bem morrer junto com ela. |
— Apenas escreva — ordeno a mim mesmo, colocando a ponta do lápis no papel mais uma vez. — Não pode ser tão difícil. Você já compôs três dúzias de músicas, se não mais. Apenas coloque uma palavra na frente da outra até ter palavras suficientes para preencher cerca de três minutos. |
Arrasto a ponta do lápis no papel, mas ainda assim as palavras não aparecem. |
— Maldição — urro, quebrando o lápis com a mão, e jogo os pedaços no chão. — Maldição, maldição, maldição. |
Uma mágoa familiar fervilha em meu peito. Se Lincoln não estivesse tão fodido, eu não estaria nessa posição. Quando assinamos nosso primeiro contrato com a Epic Records há dez anos, Lincoln e eu concordamos em dividir a responsabilidade de compor as músicas. E quantas músicas Lincoln compôs? Duas. Duas porras de músicas em dez anos, enquanto eu fico sentado aqui com uma úlcera por precisar compor um álbum inteiro nas próximas semanas. |
— Vai se foder, Lincoln, e eu que me foda também — resmungo, levantando-me do sofá e indo para a minha cozinha pegar outra cerveja. |
Que tal isso para uma noite selvagem de sexta-feira na vida de uma estrela do rock? Beber cerveja e me autocriticar na minha cobertura mortalmente silenciosa. |
Vou até a janela que ocupa toda a parede leste. As luzes da cidade brilham como se fossem estrelas por todos os lados, só que quando eu inclino a cabeça para ver as estrelas de verdade, não há nada além de uma neblina poluindo o céu. |
Ergo a garrafa de cerveja até os meus lábios e tomo a metade de um gole só. Nada disso era como deveria ser. Quando começamos a banda, não éramos nada além de melhores amigos compartilhando o amor pela música. Quando assinamos com a Epic, tínhamos tanta certeza de que isso mudaria nossas vidas. Não estávamos errados. Uma década depois, temos sete álbuns, três deles foram platina, temos um nome conhecido, nossas músicas — minhas músicas — tocam em todas as estações de rádio. Estamos vivendo o sonho. Então, por que isso parece tão vão? |
Descanso as palmas das mãos contra o vidro gelado da janela e me pergunto, pela milionésima vez, qual o sentido disso tudo. |
O som estridente do meu telefone tocando me faz dar um pulo. Coloco a mão no bolso e vejo o nome de Archer na tela. Só existe um motivo para o nosso empresário me ligar depois da meia-noite numa sexta-feira qualquer. |
— Ele está bem? — pergunto assim que atendo. Minha voz soa indiferente para os meus próprios ouvidos, e eu me pergunto se Archer percebe. Eu me sinto esgotado física e emocionalmente. Sou uma bateria com apenas dez porcento de vida restante e nenhum carregador à vista. |
— Ele está no hospital — responde Archer, soando tão exausto quanto eu. |
— É muito ruim? |
— Ainda não tenho certeza. Estão fazendo uma lavagem estomacal. Parece que ele bebeu um litro de uísque. Eu o encontrei desmaiado na varanda, quase congelado. |
— Na varanda? — Coloco a mão de volta no vidro congelante e estremeço. — Está por volta de doze graus negativos lá fora. |
— É — concorda Archer. |
— O que você precisa que eu faça? |
— Esta noite, nada. Só queria que você soubesse, e esperava que pudesse passar aqui para conversar depois que ele sair do hospital. Amanhã à noite, talvez? |
— Sim, a hora que for — concordo. — Quer que eu ligue para o Benji e o Jude? |
— Pode deixar que eu ligo, preciso de algo para me distrair enquanto espero. Mas obrigado. |
— Sem problemas. Até amanhã. |
Desligo e bebo o resto da cerveja. Às vezes, parece que esta não é a vida que deveríamos viver. Todos nós nos desviamos em algum momento. Posso identificar exatamente onde a minha vida se dividiu entre antes e depois. Escrevi uma dúzia de músicas sobre ele. Fiquei noites acordado pensando nele. Fiquei bêbado e chorei por ele. Eu mal o conheço, mas, em nove anos, não consegui esquecê-lo. O que eu não daria para voltar e fazer algo diferente. Talvez eu nunca o tivesse deixado. Talvez eu tivesse implorado para ele vir comigo. Não sei o que faria, mas qualquer outra opção seria melhor do que isso. |
Jogo a garrafa vazia na lixeira de recicláveis e vou para o meu quarto, tirando a roupa pelo caminho. Talvez eu sonhe com alguma maldita letra e salve a minha vida. É mais provável que eu sonhe com ele. |
|
Faixa 2: Lado B |
Louco por Você num Avião |
Lando |
Franzi o nariz diante do cheiro de avião velho que me atingiu quando embarquei. Eu me perguntei se aviões particulares tinham este mesmo cheiro de chulé e se algum dia eu teria a chance de descobrir. Com a trajetória ascendente da banda, esperava ter. Mas eu não gostava de contar com o ovo no cu da galinha. Eu só tenho dezenove anos e ainda não consigo acredito na vida de estrela do rock que está a minha frente. |
Acomodei-me no meu assento e subi a cortina para olhar pela janela. Fazia um dia cinzento e deprimente lá fora: um reflexo perfeito do que acontecia na minha mente. |
Estava me sentindo nervoso logo depois da nossa primeira turnê como abertura de uma grande banda de rock. Lincoln estava estranho; primeiro, tão depressivo que mal saía da cama, para repentinamente sair todas as noites com Jude, sem dormir, irritado o tempo inteiro… eu achei que ele estava cheirando cocaína junto com Jude, mas, depois de mais ou menos um mês, voltou a ser ele mesmo do nada. Não consegui entender porra nenhuma do comportamento dele. |
Depois, recebi uma ligação, no final de semana anterior, da minha mãe me contando que meu pai estava no hospital depois de um infarto e precisava de uma cirurgia de safena. Nosso último álbum já estava pronto, e faltava um pouco mais de uma semana para sairmos na nossa primeira turnê como atração principal, então, voei para casa para a cirurgia dele. Correu tudo bem, mas não conseguia me livrar da imagem do meu pai pálido naquela cama de hospital. |
O estalo do compartimento superior tirou minha atenção da janela para analisar a pessoa que passaria as próximas horas sentado ao meu lado. Meu olhar passeou por um homem lindo com cachos castanhos saindo de um gorro vermelho, uma jaqueta preta de couro combinando com seu corpo esbelto e impressionantes olhos azuis. Quando um sorriso lento se abre em seus lábios, duas covinhas aparecem em suas bochechas, e eu sinto o estranho impulso de passar minha língua nelas. |
— Sou eu ou uma fita num assento de avião não inspira muita confiança? — brinca ele, apontando para a fita isolante no braço do seu assento. |
— Tenho certeza de que usaram muita fita isolante para manter o motor no lugar — asseguro-lhe sério. |
— Assim espero. — Ele se senta no assento ao meu lado e uma fragrância de baunilha flutua à minha volta, que faz eu me inclinar para frente e cheirá-lo para encher meus pulmões com este odor delicioso. |
— Eu sou o Lando. — Estendo a mão e ele a aceita. |
— Dawson — respondeu. — Você mora na Flórida ou está indo de férias? |
— Na verdade, é uma conexão. Estou indo para Nova Iorque. |
— Ah… — assente em compreensão, há uma pontada de decepção por trás de seu olhar. — Estou voltando para casa. Acabei de terminar a faculdade e estou tentando descobrir que diabos fazer agora que sou oficialmente um adulto. |
— Em que você se formou? |
Dawson me olha desconfiado como se estivesse se preparando para ser zoado. |
— Mestrado em Literatura. Eu sei, deve ser a graduação mais inútil em se tratando de conseguir um emprego. |
— Você é escritor? Ou apenas um amante da palavra escrita? |
— Os dois — Dawson suspirou com um sorriso contente. — Eu adoro palavras. Adoro o jeito que certas palavras soam, o jeito com que a frase perfeita pode fluir da sua língua para a sua caneta. A língua é linda e inspiradora. |
— É, sim — concordei. — Eu sou meio que um escritor. |
— Meio? — questionou ele com uma sobrancelha arqueada. — Ou você escreve ou não. |
— Eu escrevo músicas — expliquei. — Faço parte de uma banda. |
— Hmm, excelente cantada — ronronou ele, e minha pele se arrepiou de calor. — É uma banda de garagem ou o quê? |
— Não exatamente — resmungo, passando os dedos pela minha barba longa. |
— Ai, merda, você é famoso e eu simplesmente não te reconheci? Calma aí, se você é famoso, o que está fazendo num avião que está remendado com fita isolante? |
— Não sei se somos famosos — eu me esquivei. — Acabamos de terminar a turnê de abertura para o Next Weekend, e nossa primeira turnê solo começa na semana que vem. |
— Ai, meu Deus, você é do Queda Vertiginosa? |
— Sou. — Senti o rubor correndo pelo meu rosto, mas a admiração no rosto de Dawson me deixou um pouco convencido também. |
— Isso é legal pra caralho. Você compôs Alameda Cherry? |
— Não, não compus essa. Eu compus as outras músicas deste álbum. |
O sorriso de Dawson se alargou. |
— Posso te contar um segredo? |
— Claro — dou uma risada. |
— Achei as outras músicas melhores do que Alameda Cherry — admitiu ele. — Quero dizer, essa era legal, mas as outras eram muito… mais. Poéticas e cativantes. Originais e lindas. |
Senti meu rubor crescer, meu rosto fervia. |
— Obrigado — murmurei. |
— Desculpe, sou efusivo — desculpou-se Dawson. — Chato você só estar na Flórida para pegar outro voo. |
Sua voz era melancólica e seu olhar quente, cheio de promessas. Alguma coisa dentro de mim me dizia para adiar o voo. Eu não precisava realmente estar de volta a Nova Iorque até terça-feira. Que mal faria passar um final de semana dando uns amassos sem compromisso? |
|
 | continue lendo na Amazon ou no Kindle Unlimited |
|