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03/05/2024

DIVULGAÇÃO DE EDITORAS #18 - DARKSIDE, ESCALA, GALUBA, VESTÍGIO, NEMO.

 Olá alegres e felizes!


Novidades das editoras.


 01-) DARKSIDE:

Uma casa construída a quatro mãos, onde o gótico sulista dos Estados Unidos ganha vida nas sombras. Um manuscrito inacabado. Uma parceria que incendeia a imaginação 📖🕯️ Chamas Vivas une a narrativa singular de Michael McDowell com a maestria de Tabitha King, e acaba de chegar na DarkSide® Books.
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Toda grande ideia é germinada a partir de uma pequena semente, mas nem toda árvore frutífera é vista por quem depositou a semente na terra. Ao comemorar a vida e a obra de Mary Wollstonecraft, celebramos a escritora que desafiou as normas de sua época com muita coragem, e preparou o solo para a chegada do talento lendário de Mary Shelly, sua filha, a qual conheceu brevemente. 

Mãe e filha deixaram sua marca no mundo com suas escritas monstruosas e praticamente espelhadas. Para celebrar o aniversário e o legado de Mary Wollstonecraft, a Caveira preparou uma seleção especial das criadoras e suas criaturas com 40% OFF. Inspire-se com Mulheres ExtraordináriasFrankenstein e outros títulos até o meio-dia de segunda (29/04). 
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02-) ESCALA:


A revista Humanitas, é um ponto de encontro multidisciplinar que discute grandes questões da atualidade, lições do passado e perspectivas futuras. Todos os meses, especialistas em Psicologia, História, Filosofia, Antropologia, Economia, Sociologia, e áreas afins, levarão o melhor conteúdo e ideias para abrilhantar, ainda mais, a sua cultura.

A primeira obra de grande difusão do escritor francês George Bataille, A experiência interior, propõe que nos livremos das certezas que sustentam a nossa identidade estável, coerente e ilusória — e enfrentemos, de uma vez por todas, a vida como ela é: tragicômica. Para o filósofo, em meio às nossas angústias interiores, o cômico apresenta-se como uma figura transgressora e também soberana que nos tira de nossas atividades usuais e de nossos propósitos utilitários, para destruir nosso self autônomo/automático, permitindo que nos entreguemos, por instantes, ao frenesi e ao excesso. Isso explica em parte por que, desde sempre, rir e fazer rir é uma estratégia que nos ajuda a aliviar fardos e a ansiedade, e traz alegria para si e para os outros. Viajar por essa história é a proposta da Embaixadora Global do Riso, Ros Ben-Moshe, professora da Universidade La Trobe, em Melbourne. O texto que ilustra a capa desta edição, revela que rir “não era crucial apenas para as tradições judaico-cristão-islâmicas; foi também um atributo importante de civilizações antigas e culturas indígenas. O humor e o riso eram tão intrínsecos aos povos aborígines e das ilhas do Estreito de Torres que estão embutidos em suas histórias sobre a criação, que remontam a pelo menos 65 mil anos atrás”. Desde então, rir de si e da vida continua sendo um santo remédio.

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03-) GALUBA:

Comece a ler Escrito na Pele

Foi ódio à primeira vista!

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Sinopse:

Qual o preço da liberdade?
Isabella viveu toda a sua vida em uma gaiola de ouro na cidade Cagliari, na Itália. Tinha tudo o que queria, desde que seguisse o roteiro estipulado pelos seus pais: ser sempre a melhor aluna da turma, fazer direito para assumir a lucrativa empresa de advocacia do pai, casar-se com um pretendente da sua posição social. Mas o sonho dela é trabalhar com livros, ter sua própria editora e descobrir novos autores.
A vida de Lorenzo nunca foi fácil e já teve que cometer atos questionáveis para sobreviver. Atualmente, está em uma situação um pouco melhor, dividindo o apartamento e o estúdio de piercing e tatuagem com seu melhor amigo. Até que ele conhece Isabella, uma patricinha mimada e reclamona que não sabe aproveitar a vida.
Eles não poderiam ser mais diferentes e errados um para o outro, mas é engraçado o que acontece na vida quando estamos dispostos a renunciar a tudo pelos nossos sonhos.

 

Naquela manhã de início de setembro, o sol em Cagliari brilhava num céu azul-turquesa e o calor era tão sufocante que tornava o ar irrespirável.

Isabella estava sentada na ponta de um banco qualquer e procurava, com toda dignidade de que era capaz, não se mostrar horrorizada. Altiva, ela estava de pernas cruzadas, o queixo elevado e um par de óculos escuros muito caros protegendo os olhos da luz cegante que refletia do pavimento. Os longos cabelos loiros, perfeitamente penteados, estavam soltos sobre os ombros. Vestia roupas de marca e desejou, com todo o coração, que aquele banco imundo não as estragasse. Pensou em todas as pessoas que já haviam sentado ali e torceu os lábios numa expressão elegante de desgosto.

Duas malas entupidas a seu lado continham uma boa parte de seus pertences.

Umas semanas antes, ela jamais teria imaginado que ia se encontrar numa situação dessa. Ela era uma garota de sorte, tinha acesso a todos os privilégios da condição social de seus pais. Tinha um namorado pelo qual era muito apaixonada e em breve se casariam. Acontece que nunca tinha tido liberdade para tomar as próprias decisões. Estava presa numa bela gaiola de ouro. Mas, agora, seu sonho, o mais ardentemente desejado, estava a ponto de se tornar realidade. Qual o preço da liberdade?

Capítulo um
Lar doce lar 

Isabella perdeu a conta do tempo em que olhava para a porta, buscando coragem. Até aquela tarde, tinha se sentido confiante e experimentado até um tantinho de euforia com a ideia de se livrar do perfume asfixiante da mãe e do pós-barba sofisticado do pai.

Seguiu com o olhar as inúmeras rachaduras da parede ao lado da porta e a tinta descascada em vários pontos. O desconforto começou a se alastrar pelo seu peito.

Já estava assim antes?

Provavelmente, mas ela foi atraída pelo preço baixo — 190 euros, uma raridade para um apartamento em Cagliari — e não podia dar importância para bobagens, como algumas rachaduras e tinta descascada. Tomada pela urgência e a euforia, ela olhou sem muita atenção e, sem achar grandes defeitos, assinou o contrato de aluguel.

Agora não tinha mais volta. Já fez o depósito, a maior parte dos seus pertences estavam nas duas malas aos seus pés e, a razão de não ter mais volta: os pais tinham cortado relações com ela.

— Se vira. — Foram as palavras finais de sua mãe, Giovanna.

Essa lembrança reacendeu sua força de vontade. Isabella remexeu na bolsa à procura do molho de chaves. E, sem mais hesitações, achou a chave comprida e colocou na fechadura. Com uma só volta, ela se abriu.

Com as malas nas mãos, empurrou a porta com o ombro. Ofegando de cansaço, conseguiu passar da soleira. Parou alguns instantes para observar sua casa nova. A primeira coisa que notou foi a densa penumbra, que deixava o ambiente angustiante e logo a fez sentir-se oprimida, sem ar.

A segunda foi o cheiro de mofo. Tinha a impressão de estar dentro de um armário cheio de roupa suja. Franziu o nariz e cobriu a boca com expressão de nojo. Que cheiro ruim, resmungou.

Ficou impressionada de como a casa parecia diferente de quando foi visitá-la junto com a proprietária. Provavelmente tinha sido arrumada para aquela ocasião.

Queria ver em que condição estava o quarto e esperava encontrar a colega de apartamento para entender as regras de convivência e da casa, além de outros detalhes importantes.

Arrumou as malas e a bolsa grande, encostando-as na parede, depois se virou. De frente para si, estendia um corredor escuro, alto e estreito. O silêncio que permeava o ar foi quebrado por um fundo musical quase imperceptível.

Isabella deu alguns passos, desnorteada e insegura, debruçou-se na primeira porta à direita: era a cozinha. No centro, uma mesa branca e a janela estava com as persianas baixadas, filtrando faixas sutis da luz da tarde. Parecia tudo arrumado: na pia não havia louças sujas e as portas dos armários estavam fechadas. Com o rabo do olho, notou uma geladeira e uma lava-roupas ao lado de uma TV antiga, ainda de tubo.

De repente, entrou em pânico ao pensar que nem sabia como ligar uma máquina de lavar. Sempre teve empregada, por isso não fazia ideia de como executar as tarefas domésticas.

No exato momento em que desviou o olhar, uma das portas abriu-se de súbito, revelando a figura de uma moça com longos cabelos castanhos, arrumados em dreadlocks, até a metade das costas. Vestia uma blusa larga verde militar e um par de shorts.

Seus olhos escuros e vivazes fecharam-se em duas frestas sutis, observando-a, pensativos.

— E você quem é? — perguntou com receio. Apesar da pergunta, a moça não parecia ter ficado particularmente perturbada pela presença de uma estranha dentro de casa.

Isabella foi pega de surpresa. Ajeitou um dos tufos loiros atrás da orelha.

— Sou a Isabella — apresentou-se —, a nova colega de apartamento.

— Não fazia ideia que você chegaria hoje, a proprietária não me avisou — respondeu, oferecendo a mão. — Eu me chamo Nádia. — Avançou na sua direção, ao mesmo tempo em que a porta atrás dela abriu-se um pouquinho mais.

Uma lufada malcheirosa e adocicada chegou até o nariz de Isabella. Custou um pouco para dar-se conta do que se tratava. A desconfiança em relação à colega, aumentou dentro de um instante.

Como se não bastasse, escutou as notas de uma música latino-americana vindo do quarto. Odiava aquele gênero musical; isso junto ao aspecto extravagante e à maconha, foi o suficiente, a seu ver, para condená-la.

Ótimo, moro com uma maconheira.

Isabella retrucou com um olhar cortante. Não lhe deu a mão, se limitando a lançar-lhe um olhar para seus pés descalços em contato com o chão. Conteve-se para não torcer os lábios.

A outra franziu as sobrancelhas e retirou o braço. Apoiou-se ao pilar da porta e então, com um sinal da cabeça, indicou a porta ao seu lado.

— Seu quarto é esse. Você deve estar com a chave, presumo. — Devia ter reparado na atitude defensiva, porque o tom era menos amigável.

Isabella fez que sim.

— Tá bom então, vou voltar a estudar. — Nádia lançou um último olhar cauteloso e virou-se.

— Espera — disse Isabella. — É a primeira vez que divido apartamento com alguém, não estou acostumada. Será que você pode me explicar como funciona? — Queria mesmo era perguntar como funcionava uma máquina de lavar, mas se segurou: não queria parecer uma incapaz.

Nádia cruzou os braços na altura do peito e observou-a da cabeça aos pés. Isabella irritou-se com aquela inspeção.

— Não tenho dúvida, você se parece mais com os proprietários que alugam as casas — murmurou, depois encolheu os ombros. — Nada demais, eu fico na minha, você faça o que quiser.

Não lhe deu muita possibilidade para retrucar porque se virou e entrou no quarto, fechando a porta às suas costas e deixando-a sozinha, como uma idiota, no meio do corredor.

Isabella sentiu o coração apertar. A frustração, a decepção e a raiva estavam devorando-a por dentro. Sentiu-se perdida, como se tivesse desembarcado num mundo hostil e desconhecido. Fechou os olhos por um segundo e respirou fundo.

Eu vou conseguir, intimou-se. Tenho que conseguir.

Era um sacrifício necessário, a conquista de seu sonho e da liberdade. Com certeza valia a pena. Aceitaria qualquer compromisso para alcançar o objetivo, o mesmo que a deixava acordada à noite desde que tinha mergulhado nas páginas de um livro pela primeira vez. Há anos que pensava nisso, tinha imaginado aquele momento tantas vezes que conhecia de cor a sensação de plenitude que sentiria. Arrepiava-se toda vez que a ponta do dedo tocava levemente a capa de um romance e a tinta impressa no papel.

Decidiu abrir mão de tudo para tentar ser realmente feliz, como nunca havia sido dentro das paredes opressoras da sua casa, entre o olhar cortante da mãe e insondável do pai.

Foi expulsa de casa sem muitas formalidades, depois que decidiu se inscrever na especialização em edição, para abrir uma editora. Era o seu sonho. Eles, ao contrário, tinham programado para ela uma carreira como notária no escritório do pai. Era a sua vida e não se importava em ter que alcançar sozinha seus objetivos sem a ajuda dos pais.

Afinal tinha vinte e quatro anos e um diploma em Direito conseguido com as melhores notas. Se conseguiu passar no exame de Direito Penal com louvores, também poderia ser capaz de viver com uma estranha e arranjar um trabalho para se sustentar. Esse pensamento deu segurança para ela bloquear qualquer sensação negativa. Dirigiu-se à entrada, onde tinha deixado as duas malas e a bolsa grande. Arrastou-as até o quarto. Não teve nem um único momento de hesitação quando enfiou a chave dourada na fechadura. Isabella puxou a porta que rangeu nas dobradiças.

O quarto era exatamente como ela se lembrava. Na sua frente, uma janela debruçava-se acima de uma varanda cheia de folhas secas. A luz quente do poente acariciava docemente a mobília modesta, tornando o ambiente aconchegante e conferindo-lhe nuances avermelhadas e douradas. As sombras alongadas de uma árvore agitavam-se no chão como numa dança.

A cama viúva encontrava-se encostada na parede à sua esquerda, ao lado de uma cômoda e um armário alto quase até o teto. Uma estante e uma escrivaninha completavam a decoração.

Isabella levou um tempo para se familiarizar. A partir daquele momento, seria ali que ela dormiria, ainda que a ideia a deixasse horrorizada. Era lá que leria seus romances favoritos e naquela escrivaninha quebrada que estudaria. Dentro das malas, havia vestidos que valiam muito mais que aqueles móveis e essa ideia deu-lhe uma certa angústia. Aliás, a julgar pelo tapete todo empoeirado, ela deveria fazer uma boa limpeza antes de arrumar suas coisas.

Pensou na expressão horrorizada da mãe se visse aquele lugar. Sorriu: no fim das contas, não estava tão mal.

***

 A noite já avançava, quando finalmente parou de limpar o quarto. Deixou a janela aberta e uma brisa leve transportava o perfume de lavanda do produto de limpeza que tinha encontrado na cozinha. Vestiu suas roupas menos caras e prendeu os longos cabelos loiros num rabo de cavalo. Foi a primeira vez em toda a sua vida que usou um pano de chão.

Foque no objetivo. Você está a um passo de realizar o que sempre desejou, repetia para si mesma enquanto, com uma careta, tirava a poeira dos móveis.

Suspirou, passando a mão na testa para afastar as mechas rebeldes e apoiou-se na parede para descansar um pouco as costas. Não queria sentar-se na cama, pelo menos até que tivesse arrumado um cobertor para o colchão e uns lençóis limpos. Não sabia quem havia dormido ali antes, e só de pensar seu estômago embrulhava.

O toque do seu iPhone a sobressaltou. O coração de Isabella pulou do peito: talvez fossem seus pais? Pegou o celular do bolso. Na tela aparecia escrito "André". Desbloqueou o teclado e levou o celular até a orelha.

— Alô?

— Oi — disse a voz suave do seu namorado. Ao escutá-lo, moveu os lábios num doce sorriso. — Está tudo bem com você? Sã e salva?

Isabella suspirou, o olhar perdido nas ondas da cortina que tinha acabado de arrumar.

— Por enquanto — respondeu.

André riu. Era um riso sincero, cristalino, que logo a fez sentir-se melhor.

— Que exagerada! Está tão terrível aí?

— Acho que peguei alguma doença no ônibus, não sei por quanto tempo vou sobreviver — brincou ela. Aquela tarde, pela primeira vez desde que começara a dirigir, não pegou o Mercedes do pai; tinha optado pelo ônibus.

— Você sempre faz drama. — Isabella sentiu um farfalhar de folhas do outro lado do telefone.

— Você ainda está no escritório?

— Estou indo embora.

— Ok. — Queria lhe perguntar se tinha esbarrado com seu pai no trabalho, mas mordeu a língua.

— Isa, você sabe que não precisa fazer isso a qualquer custo, certo? Seu pai já pagou a escola notarial.

Isabella fechou os olhos, sentindo a raiva ferver seu sangue. Era esse mesmo o problema: seu futuro tinha sido programado desde antes de seu nascimento, mas ninguém tinha se dado ao trabalho de perguntar a ela o que ela queria fazer de fato, quais eram seus sonhos e suas aspirações. Nunca ninguém se importou, nem seu adorado papai.

— Estou bem onde eu estou — replicou com veemência.

André suspirou, mas não quis insistir e mudou de assunto.

— Como é a casa? Posso te visitar?

Sentiu o estômago revirar por causa daquela eventualidade.

— A casa é… digamos que é sempre melhor do que dormir debaixo dos arcos da Rua Roma. — Evitou propositalmente responder à segunda pergunta.

— Então você não vai me mostrar. — Percebeu uma pitada de decepção na voz do namorado. Fez uma careta.

— Por enquanto não. — Não conseguia imaginá-lo dentro daquelas quatro paredes bolorentas, com mocassins de 500 euros, blazer, gravata e cabelo sempre perfeitos. Seria como uma nota sublime no meio de uma sinfonia horrenda.

Seguiu-se um momento de silêncio incômodo antes de ele continuar.  Dessa vez, seu tom era um misto entre doce e paternalista.

— Isa, falando sério, pense bem sobre o que você está fazendo. Tenho certeza de que a sua mãe vai repensar isso.

— Ah, sim! Está falando da mesma mulher que me proibiu de sair durante dois meses porque tirei 7,5 em Grego? — rebateu com sarcasmo.

— A Giovanna vai entender, vocês só precisam conversar.

— Não, ela não vai entender. E o que você diz do meu pai? Quando chegou no escritório, ele mencionou alguma coisa com você?

André hesitou.

— Além do trabalho, nada — admitiu afinal.

Isabella rangeu os dentes.

— Está vendo? A filha perfeita não entrou nos esquemas preestabelecidos, ignorou as suas vontades e o futuro estúpido que tinham planejado para ela, e agora ela se transformou numa vergonha para a família.

— Isa…

— Deixa para lá, por favor. Agora preciso ir. Mando mensagem mais tarde. — Desligou sem nem esperar a resposta dele. Aquela conversa tinha reavivado o rancor pelos seus pais, que reverberava em cada poro da sua pele.

Apoiou a cabeça na parede e olhou para o teto, suspirando pela centésima vez, depois virou para o espelho que tinha acabado de colocar ao lado da porta.

Não conseguia se reconhecer naquela desordem, um quarto estranho para ela e com as paredes descamadas. Vestia um par de jeans antigos e uma blusa gasta, o cabelo estava impossível de se olhar e um véu de tristeza profunda cobria seus olhos verdes.

Logo reapareceu na sua memória a frase peremptória com que o pai a tinha literalmente posto fora de casa, só porque declarou que queria seguir seus sonhos, abrir uma editora e deixar a carreira notarial já predestinada e imposta pelos pais. Naquele mesmo instante, Nádia decidiu aumentar o volume da música latino-americana e o apartamento foi invadido por aquela terrível confusão de sons.

Isabella abafou um lamento.

Vai valer a pena, continuou repetindo para si mesma, como um mantra, como que para se convencer.

Vai valer a pena.

Capítulo dois
Mudar de vida

Quando terminou de organizar seu novo quarto, já havia passado algumas horas e a fome começava a se fazer sentir. Isabella não tinha ideia de como acender o fogão, nunca tinha feito sequer um café. Pensou então em pedir uma pizza ou, quem sabe, sair para jantar. Um sushi seria perfeito. Ela costumava ir em um dos restaurantes japoneses mais em voga na cidade, o único que não tinha a opção de rodízio.

Já estava quase mandando uma mensagem para sua prima Francesca, quando se lembrou de estar no vermelho. Seu pai tinha mantido a palavra: deixou para ela apenas não que já estava na sua conta corrente, e era o suficiente para que ela pudesse pagar os primeiros meses de aluguel, nada mais. Dinheiro nunca foi problema e ela nunca precisou economizar. Não estava habituada.

O pânico a surpreendeu e ela começou a ficar sem ar. Como faria daqui em diante? Olhou ao seu redor, enquanto a sensação de desconforto tomava conta da sua pele.

A colcha sobre o colchão mofado, a cortina, os móveis pomposos e os vestidos dentro do armário desconjuntado eram os mesmos, ainda que naquele contexto parecessem pertencer a uma outra garota. Tinha a impressão de não estar de fato ali, como se fosse um sonho do qual ela acordaria.

O cheiro de guardado pairava no ar, apesar do desodorizador de ambientes e do limpador multiuso que ela tinha usado. Esfregou o nariz para tentar afastar o cheiro incômodo.

Ah, uma pizza eu posso pedir, ela resmungou, enquanto procurava no celular o site de uma pizzaria delivery. Decidiu pedir uma pizza margherita simples. Num impulso, a excitação pela liberdade renovada deu lugar à ansiedade.

Um espasmo de desgosto lhe subiu à garganta. Estava pobre. Quando decidiu tomar esse novo rumo não tinha ideia do significado, do que ela tinha renunciado. Tinha sido tonta e impulsiva, mas ao mesmo tempo não podia saber que seus pais iam deixá-la sem um tostão. Como não previu isso? Ela os conhecia bem e sabia que aquele gesto iria desencadear consequências desastrosas.

Não estava segura de que iria conseguir se adaptar a um ambiente diferente daquele em que tinha sido criada. Tinha sempre odiado aquele mundo, mas ainda assim não conseguia se livrar dele, estava impresso no seu modo de agir e de pensar.

A adrenalina e o entusiasmo a abandonaram de repente e ela foi novamente vítima de uma espiral de pensamentos negativos. Decidida a deixá-los de lado, ela não podia deixar-se abater pelo desconforto; iria lutar, encontrar um trabalho digno, frequentar a pós em edição em que já estava inscrita, e que, felizmente, já tinha pagado antes que os pais cortassem por completo seus recursos.

Depois, abriria uma editora.

Ou ao menos tentaria com todas as suas forças.

Esse pensamento a confortou e acalmou de súbito.

Com o telefone colado na orelha, abriu a porta para ir até a cozinha pegar um copo d’água. Mal tinha passado da soleira e manteve-se congelada onde estava.

Seu olhar interceptou inesperadamente uma figura masculina, sem camisa e com as calças desabotoadas, que saía de fininho do quarto de Nádia. Na mão esquerda tinha um par de sapatos, e Isabella observou a teia intrincada de veias que serpenteavam os bíceps bem delineados, indo terminar nos ombros, onde a pele era tomada por tatuagens de vários tipos.

Enrubescida, embaraçada, desviando o olhar, pigarreou para chamar a atenção do sujeito, e quando ele se voltou em sua direção, ela se viu enquadrada por um par de olhos azuis. Notou um tom de surpresa a atravessá-lo, mas depois o rosto do rapaz se abriu num sorriso.

— Oi — ele a cumprimentou.

Isabella colocou o iPhone no bolso e o encarou desapontada.

— Oi — ela resmungou. — Quem diabos é você?

O rapaz riu e passou a mão livre pela cabeleira acobreada.

— É, a Nádia tinha mesmo razão.

Ela não perguntou o que significava aquela afirmação, podia intuir por conta própria.

— Você não respondeu — ela disse.

— Me chamo Daniel — ele se apresentou, sem parar de sorrir. Parecia divertir-se.

— Muito prazer — ela replicou, áspera. — Posso saber o que você está fazendo na minha casa?

O tal chamado de Daniel indicou a porta de Nádia com a cabeça.

— Sou um… amigo dela.

Traduzindo: amigos com benefícios.

Isabella revirou os olhos.

— Naturalmente.

Daniel pareceu perturbado com sua atitude e seu sorriso vacilou. Talvez tenha percebido que fazer amizade não estava nos planos da moça.

— Olha, eu agora tenho que ir, então… — disse, depois de uma breve pausa.

— Pode ir. — Isabella afiou o olhar e com um gesto teatral liberou o caminho para ele.

Ele não fez caso. Se abaixou, calçou os sapatos e, depois de amarrá-los, saiu do apartamento.

Isabella sentiu a irritação subir. Começava a entender por que a proprietária não conseguiu encontrar outra inquilina até sua chegada. Agora ela morava naquela casa também e a Nádia não podia convidar quem quer que fosse sem informá-la antes. Era verdade, Isabella nunca tinha morado com ninguém, mas conhecia o respeito para com os outros. Não era correto que ela encontrasse homens seminus no corredor, queria, no mínimo, ser colocada a par da possibilidade.

Por isso deu algumas batidas na porta do quarto de Nádia, com a intenção de falar com ela.

Sua colega de apartamento abriu a porta, recebendo-a de sutiã e calcinha.

— O que você quer? — ela soltou.

Isabella abriu a boca, mas diante do olhar afrontador da moça, ela recuperou rapidamente o controle.

— Quem era aquele? — ela perguntou brusca.

— Aquele quem?

— Você sabe muito bem.

Nádia deu de ombros.

— Não é problema seu.

— Você não mora sozinha! — exclamou Isabella. — Se quer convidar rapazes, pelo menos me avisa, assim posso ir para algum lugar ou ficar fechada no meu quarto.

Ou me emparedar viva, se for necessário.

A colega de apartamento se limitou a levantar as sobrancelhas.

— Vai tomar conta da sua vida — ela respondeu, batendo a porta em sua cara.

Isabella cerrou os lábios. Tinha perdido a fome.

***

 Fazia horas que ela encarava o teto. Tinha se revirado na cama muitas vezes, mas não tinha conseguido encontrar uma posição cômoda para pegar no sono. As molas do colchão cutucavam suas costelas e do quarto de Nádia vinham ruídos bastante incômodos.

Isabella bufou, apertando o travesseiro nas orelhas, depois virou para o lado da mesinha de cabeceira e pegou o celular. Apertou o botão lateral e a luz da tela feriu seus olhos.

Eram três da manhã.

Fantástico.

Não tinha conseguido pregar os olhos. Um dia bem cansativo a esperava, tinha prometido para si mesma encontrar um emprego antes do fim da semana, então devia entregar seu currículo em alguns escritórios da cidade. Nunca tinha trabalhado na vida, refletiu, do mesmo modo que nunca tinha dividido apartamento com ninguém além de seus pais e os empregados. Era difícil e dentro dela havia medo, ainda que tentasse disfarçar. Ela e Nádia eram dois opostos, como o sol e a lua, e ela não estava segura de que se dariam bem, dadas as circunstâncias anteriores.

Talvez essa experiência a ajudasse a crescer ou a mudar de perspectiva. Podia vê-la como um desafio, mas algo nela lhe instigava insegurança. Isso a deixava com o peito apertado, não conseguia relaxar e a mantinha acordada, remoendo o futuro.

Sentou-se na cama com um salto. Passou uma das mãos pelos cabelos e massageou as têmporas, na tentativa de atenuar um princípio de enxaqueca.

Decidiu beber um pouco de água fresca, por isso se levantou. Estava vestindo só uma regata justa e uma calcinha com estampa de morangos, no entanto estava fazendo muito calor para vestir mais alguma coisa.

Fechou a porta atrás de si com delicadeza, para não fazer barulho. Virou-se, procurando se habituar rapidamente com a penumbra densa na qual a casa tinha mergulhado. O brilho prateado da lua cheia adentrava a janela da cozinha e quebrava a escuridão.

Procurou um interruptor para acender a luz, depois se lembrou de que o corredor não tinha nenhum. Casas antigas como aquela não tinham boas instalações elétricas. Repreendeu a si própria por não ter trazido o celular, poderia usar a luz da lanterna.

Depois de um pouco, Isabella começou a se mover lentamente, dando alguns passos, aproveitando o frio do chão em contato com seus pés. Torceu para que Nádia não a visse vestida daquele jeito, tateando com os pés para não esbarrar em nada.

Acontece que, no minuto seguinte, mais especificamente na fração de um segundo, esbarrou em algo duro e pensou que se tratava de uma parede, ao menos até elevar a cabeça.

Dois olhos cinza se fixavam nela, transpassando-a dos pés à cabeça, como que se quisessem perscrutar cada partícula de sua alma.

Isabella se endireitou e levou uma mão à boca para não gritar.

Diante dela, iluminado pela escassa luz da lua, estava um rapaz vestindo só uma boxer. Era alto, não muito musculoso, ainda que tivesse o tórax torneado e bem esculpido.

Num primeiro momento, Isabella pensou tratar-se de Daniel, mas o rosto do homem diante dela era diferente. Suas feições eram angulosas e irregulares, embora não conseguisse fixar o olhar nele. Os cabelos eram negros, raspados nas têmporas e com uma longa mecha que encaracolava sobre a testa. Um piercing nos lábios e uma quantidade impressionante de tatuagens completavam sua figura impressa na penumbra.

Estava bem certa de que não era o rapaz daquela tarde.

— Bela calcinha — disse ele, com a voz rouca e um sorriso malicioso estampado na cara.

Isabella corou. Estava de calcinha, diante de um desconhecido, com uma camiseta apertada que marcava os seios. Desejou que um buraco se abrisse debaixo de si para sugá-la, nunca tinha acontecido nada tão inconveniente assim com ela.

Cruzou os braços para impedir que ele percebesse o que quer que fosse visível pela transparência.

— Sua cueca também —replicou ela, tentando demonstrar atitude.

— Fico muito melhor sem —rebateu ele, percorrendo com o olhar cada centímetro do corpo de Isabella. Ela se sentiu nua diante daquele exame detalhado, o coração batendo na boca do estômago.

Olhou para ele desafiadora, mas ele parecia divertir-se com a situação.

— Obrigada pela informação — soltou entre dentes.

Sem dizer palavra, Isabella virou-se e voltou para o seu quarto. Uma vez dentro, fechou a porta e se apoiou. Colocou uma mão no peito, procurando se acalmar. Estava chateada.

Vim parar num pesadelo, não tem outra explicação.

Já tivera o bastante daquele dia terrível. No dia seguinte faria Nádia escutá-la por bem ou por mal.


04-) VESTÍGIO:


05-) NEMO:


cheirinhos

Rudy