© 2025 A. C. Meyer. Todos os direitos reservados.
As histórias publicadas aqui no Meyerverso são de leitura exclusiva nesta newsletter. Você pode indicar o link para amigos que também amam romances, mas não é permitido copiar, colar ou reproduzir os textos em nenhum formato sem minha autorização. Obrigada por respeitar meu trabalho e por fazer parte dessa jornada comigo! 🌹✨
O salão ainda vibrava com música e conversas quando lorde Alexander Blackwood apareceu na entrada principal. A princípio, sua chegada foi quase imperceptível. Uma dama deixou o leque escapar e um cavalheiro interrompeu a frase no meio. Pouco a pouco, porém, todos os olhares se voltaram para o recém-chegado.
Era impossível ignorá-lo. Alto, com os ombros largos preenchendo com precisão a casaca preta de corte impecável, o duque de Bedford tinha uma presença que dominava qualquer ambiente sem esforço. Seus cabelos escuros, penteados com uma elegância casual, refletiam a luz das velas, e seus olhos cor de âmbar percorreram o salão com uma expressão de tédio divertido, como se nada ali pudesse surpreendê-lo.
— Lá está o Duque das Despedidas — a condessa de Pemberton murmurou para a amiga, abanando-se com vigor. — Três Temporadas sem um noivado sequer.
— Ele é um predador social — lady Mackenzie retrucou, franzindo o nariz. — Seduz, dança, faz promessas silenciosas... e some antes da aurora.
— Ora, predador? — a condessa rebateu, erguendo uma sobrancelha. — Algumas dessas tolas imploram para ser devoradas... casadas ou não.
Os cochichos se espalharam pelo salão como rastilho de pólvora, mas Alexander parecia alheio às reações que provocava ou, talvez, simplesmente não se importasse.
Ele adentrou o salão exalando poder, cumprimentou conhecidos, sorriu para as debutantes e parou ao lado de seu amigo mais próximo, o major Marcus Ashford, que acabara de retornar da guerra.
— Enfim resolveu aparecer — o major disse, bebendo um gole de uísque. — Já tinha meia dúzia de damas apostando se você viria ou não.
— E quanto estava a cotação? — Alexander arqueou a sobrancelha.
— Alta o bastante para que algumas mães já tenham escondido as filhas atrás das colunas.
— É sinal de que ainda sei como manter minha fama intacta — o duque respondeu, satisfeito.
O major Ashford riu, sem humor.
— Nunca pensei que fosse sentir falta das batalhas — Marcus murmurou, observando o salão com desdém. — Mas, depois de meia hora aqui, quase prefiro os canhões franceses.
— Você sempre teve gostos peculiares, meu amigo — Alexander respondeu, dando um tapinha nas costas do major.
O major continuou a falar, mas Alexander já não lhe dava atenção. Seu olhar foi atraído para a pista de dança, onde um animado cotilhão agitava os casais. Entre eles, distinguiu uma jovem de vestido verde-claro sendo conduzida pelo visconde Whitmore.
O duque a observou com curiosidade. Ela era belíssima, não se podia negar. Seus cabelos castanhos estavam presos, revelando o rosto delicado e o pescoço fino. No entanto, o que mais o intrigou foi a expressão entediada da dama, algo inesperado para uma jovem que era de família com poucas posses, como indicava o vestido simples que ela usava, enquanto dançava com um cavalheiro que poderia ser considerado um bom partido.
Alexander continuou observando-a, encantado com o que via. Pediu licença ao amigo e se aproximou da pista de dança. Em certo momento, o visconde posicionou-se com ela próximo ao lugar onde Alexander estava e ele ouviu um pouco da conversa.
— Considero Byron muito mais sincero que Pope — ela comentou, com serenidade. O visconde franziu o cenho, murmurando algo sobre impropriedade.
Alexander sorriu ao ver a expressão de desagrado de Whitmore e concluiu que aquela não era uma dama comum, mas alguém que escondia desafio e inteligência por trás da fachada de debutante comportada.
Até que um movimento brusco do visconde fez com que o adereço que a jovem dama usava pulasse do vestido e rolasse pelo chão encerado. O acessório vermelho foi empurrado por sapatos apressados e quase esmagado por um salto. Ele olhou para a moça e a viu levar a mão ao peito, o desespero surgindo em seu rosto ao perceber que havia perdido o que Alexander imaginava ser uma joia.
Algo bateu contra seu pé e o duque viu o adereço vermelho. Abaixou-se e o pegou, surpreendendo-se ao notar que se tratava de uma rosa seca presa a um pequeno alfinete. Era algo sem qualquer valor financeiro que pudesse provocar aquela expressão na parceira de dança de Whitmore.
Ao erguer os olhos, a jovem já não estava mais lá. Ele olhou ao redor e a viu se afastar da pista, deixando o visconde para trás.
Alexander girou a rosa entre os dedos, intrigado. Aquela não era apenas uma flor perdida. Era a chave para um enigma que ele não resistiria a decifrar. Percorreu a multidão com os olhos, até encontrar o que procurava.
Evie permanecia junto à janela, ainda tentando se recuperar da perda de sua rosa. Ao ver o duque se aproximar, sentiu o coração acelerar. Todos no salão sabiam quem ele era: o herdeiro de uma das fortunas mais antigas da Inglaterra e, possivelmente, o solteiro mais cobiçado e perigoso de Londres.
— Acho que esta pequena fugitiva é sua — ele disse, parando diante dela. Seu sorriso era leve, mas seus olhos âmbar tinham uma intensidade que a fez hesitar.
Ela fitou o rosto que, até então, só vira de longe. De perto, seus traços eram ainda mais definidos: a mandíbula firme, a expressão calculista. Mas eram os olhos que a intrigavam. Havia neles uma perspicácia tão incômoda que ela teve a nítida sensação de que ele enxergava além de suas palavras.
— Vossa Graça — ela disse, fazendo uma reverência graciosa.
— Bedford, por favor — ele corrigiu, estendendo-lhe a rosa. — E não me olhe como se eu fosse devorar a sua alma. Vi como a senhorita reagiu quando a perdeu. Não parecia ser apenas um enfeite.
Evie estendeu a mão, mas ele puxou a flor de volta com um movimento suave.
— Vejo que não se trata de um adorno qualquer — ele disse, com a voz baixa. — Posso saber por quê?
A pergunta a surpreendeu e Evie hesitou. Um cavalheiro comum teria devolvido a flor com um comentário banal sobre o tempo. Mas o duque não era comum.
— Era da minha mãe — ela respondeu, quase em um sussurro. — A última do jardim dela.
A expressão dele mudou. O ar de divertimento deu lugar a uma seriedade repentina.
— Então não se trata apenas de uma rosa. É uma lembrança importante. — Ele fez uma breve pausa. — A senhorita confiaria a mim sua guarda em troca de uma dança?
Antes que Evie pudesse responder, ele já lhe oferecia o braço. Ela hesitou por um instante, sentindo o peso da decisão. Aceitar significava muito mais do que uma simples dança. Significava ser vista ao lado do homem mais controverso do salão e dar munição para fofocas que poderiam persegui-la pelo resto da Temporada.
Seus instintos gritavam para ela recusasse. Mas seu coração não obedeceu.
— Eu não deveria dançar com o senhor — ela murmurou, enquanto ele a conduzia para a pista.
— E por que não? — Alexander arqueou a sobrancelha, saboreando a provocação.
— Todos conhecem a sua fama... — Evie hesitou, sentindo o rubor subir pelo seu pescoço. Deus, como era desajeitada! Não deveria estar lembrando o homem de sua péssima reputação.
— Ah, minha terrível reputação me precede — ele respondeu, e o sorriso se alargou. — Diga-me, senhorita, o que dizem sobre mim?
— Que o senhor coleciona corações apenas para despedaçá-los depois.
Alexander soltou uma risada grave, tão cheia de vida que várias cabeças se viraram para encará-lo.
— E diga-me, srta. Hartwell — ele inclinou-se um pouco mais e perguntou com a voz baixa, mas carregada de diversão maliciosa —, acredita mesmo que um cavalheiro que resgatou um item tão importante teria coragem de despedaçar o seu coração?
Evie ficou sem palavras. Sua cabeça girava com tantas questões: como um duque sabia seu nome? Por que aquele homem de olhar travesso e reputação terrível se preocupou em resgatar uma simples rosa que tinha significado apenas para ela? Como teve coragem de ser tão indiscreta, falando a respeito da reputação dele? E o que deveria responder, em nome de Deus?
— Por que o senhor está aqui? — ela perguntou, impulsiva. — Em um baile, quero dizer. Se os detesta tanto?
— Quem disse que os detesto? — ele retrucou, fazendo-a girar com elegância.
— A sociedade — ela respondeu de pronto.
— Talvez eu esteja aqui pela mesma razão que a senhorita. Procurando algo real em meio a tanta artificialidade.
— E encontrou?
Ele estudou seu rosto por um longo momento, seu olhar parecendo capturar cada detalhe.
— Talvez — ele respondeu, por fim. — Conte-me sobre poesia.
— Perdão?
— Ouvi a senhorita dizer ao visconde que aprecia poesia. A maioria das jovens prefere falar sobre música ou pintura. Poesia é uma escolha... interessante.
Ela sentiu o rubor subir por suas faces. Não se lembrava de ter mencionado poesia para lorde Whitmore.
— O senhor estava nos observando?
— É difícil não observar quando alguém está sofrendo de tédio mortal — ele disse, curvando o canto da boca. — O pobre Whitmore pode ser muitas coisas, mas estimulante certamente não é uma delas.
— Isso é cruel.
— Mas verdadeiro. Então? Que tipo de poesia prefere?
Ela hesitou. A maioria dos cavalheiros considerava o interesse literário das mulheres desnecessário, quando não inadequado. No entanto, havia algo em sua expressão que a encorajava a ser honesta.
— Byron — ela admitiu. — Sei que é considerado escandaloso, mas...
— Escandaloso? — Ele sorriu, inclinando-se ligeiramente, como se confiasse um segredo. — Escandaloso é viver sem paixão, srta. Hartwell. Byron apenas nos lembra disso. — Seus olhos âmbar ardiam em desafio. — Ele escreve com paixão genuína sobre sentimentos verdadeiros. Muito mais interessante que sonetos açucarados sobre virtudes femininas.
— Exato.
Pela primeira vez desde que chegara ao baile, Evie se sentiu vista. Não avaliada nem julgada, mas compreendida. Era uma sensação embriagante e perigosa.
— Prometo que não falarei sobre o clima — ele disse de repente. — Já não é um começo melhor que o do visconde?
Ela não conseguiu conter uma risada.
— Muito melhor.
— E prometo também não perguntar sobre suas conexões ou perspectivas de casamento.
— Sobre o que pretende conversar, então?
— Sobre a senhorita — ele respondeu. — A verdadeira Evangeline Hartwell.
A intensidade de sua voz apertou o estômago de Evie. Era esse o tipo de conversa que ela sonhava ter, o tipo de conexão que lia em seus romances secretos. Mas também era perigoso. Alexander Blackwood não era o tipo de homem com quem uma jovem sensata se envolveria.
Seus olhos encontraram os dele, e por um momento o salão ao redor pareceu desaparecer. Havia algo naquele olhar âmbar que denunciava uma solidão disfarçada, a fadiga de um homem cansado de representar um papel. Ela reconheceu aquela sensação, pois a experimentava diariamente.
— Por que o senhor está aqui, dançando comigo? — ela perguntou, com a voz mais baixa. — A verdade, desta vez.
Alexander hesitou, e pela primeira vez desde que se aproximara, pareceu vulnerável.
— Bailes como este costumam ser exercícios de futilidade — ele respondeu. — São conversas vazias com pessoas que enxergam apenas um título e uma conta bancária. Mas hoje... hoje encontrei alguém que abandonou uma dança respeitável por causa de uma rosa murcha.
— E isso significa algo para o senhor?
— Significa que talvez a senhorita entenda o que é se sentir estranha em seu próprio mundo.
A música começou a diminuir, sinalizando o fim da dança, mas Alexander não se moveu para soltá-la.
— Minha rosa — Evie o lembrou, estendendo a mão.
Ele sorriu e, em vez de entregar a flor, deslizou-a para dentro do bolso do colete, bem próximo ao coração.
— Só a devolverei se me prometer que não fugirá quando eu a procurar novamente — ele disse, com a voz baixa e íntima.
— Isso é chantagem.
— Isso é uma oportunidade — ele corrigiu, mantendo o olhar firme no dela. — Para a senhorita descobrir se o monstro das fofocas corresponde à realidade... e para eu descobrir se a dona desta rosa é tão singular quanto parece.
Evie olhou ao redor do salão. Lady Catherine a observava com olhos faiscantes de inveja, apertando o leque com tanta força que as varetas ameaçavam quebrar. O visconde Whitmore permanecia a uma distância respeitosa, mas seu rosto demonstrava clara desaprovação. Seus pais pareciam nervosos, divididos entre o prestígio de ter a filha notada por um duque e os riscos óbvios que isso representava.
Toda a sua vida fora marcada pela cautela, por escolhas seguras e comportamento adequado. No entanto, ali, nos braços do homem mais perigoso de Londres, com sua rosa sendo mantida como refém, Evie sentiu, pela primeira vez, o impulso de fazer algo imprudente.
— Prometo — ela sussurrou.
Alexander sorriu, um sorriso que transformou seu rosto e fez o coração dela acelerar de forma alarmante.
— Então até breve, srta. Hartwell.
Ele beijou sua mão enluvada com uma reverência impecável, mas seus olhos nunca deixaram os dela. Em seguida, afastou-se entre a multidão, deixando-a sozinha com o coração disparado e a certeza de que havia acabado de aceitar muito mais do que imaginava.
Naquela noite, a srta. Evangeline Hartwell ganhou mais do que as atenções de um duque. E isso era tudo o que bastava para a sociedade transformar aquele encontro em um escândalo.
Continua no capítulo 03...
Bem, miladies, parece que nossa Evie acabou de fazer um acordo com o demônio mais charmoso de Londres! E vocês, o que acham? Alexander é realmente perigoso ou apenas incompreendido? E o que ele estará planejando para o próximo encontro?
Amanhã veremos até onde uma simples dança pode levar…👀🌹
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✨No Meyerverso, cada encontro é um lembrete de que até os corações mais improváveis podem se reconhecer. Amanhã seguimos com a jornada de Evie e Alexander… e o fio do destino começará a se entrelaçar. ✨