Saudosa, lembro-me da
musicalidade infantil.
A música fazia parte das horas do dia como a água que necessitamos
para viver.
Costumava 'tirar som' de tantos objetos quantos caíssem em
minhas mães e meus pais alertas, resolveram que deveria ter orientação correta
sobre a musicalidade.
Completava 7 anos e tomei o maior susto ao entrar na sala,
após mais um dia de aula e deparar-me com aquele instrumento imponente, grande
e lindo com o qual sonhava.
Corri até ele, passei as mãos por sua madeira. O abracei desajeitadamente:
-"É meu painho? É meu?"
- "Sim filha, é seu. E tem
mais, terá um professor para ensiná-la..."
Uma pequena lágrima caiu dos olhos
sobre minha face infantil. Corri e abracei meu painho com força, depois correi
e abracei minha mainha ainda com mais força:
-"Obrigada mainha, amo
você!"
Sentei-me na banqueta e vi minhas
perninhas penduradas, balançando, não chegavam aos pedais... Levantei cuidadosamente a tampa do meu presente. Retirei o tecido comprido de flanela que
cobria as teclas brancas e pretas. Apertei a primeiro e um som de Dó ecoou pela
sala. Meus olhos se arregalaram! E ri de alegria!
Sai tateando o teclado, escutando
a sonoridade das notas, embora ainda não soubesse seus nomes. Pelo som teclei:
"Parabéns prá você..." - Sol, Sol, Lá, Dó, Ré, Ré...
-"Ouviu mainha? Ouviu
painho?"
E repeti cantando alto: "Parabéns
prá você..."
Não esqueci os olhares espantados
e orgulhosos de meus pais ao verem que sozinha já tocava algo.
No dia seguinte fui apresentada ao
senhor Luiz, meu professor de piano e a partir dali, iniciei o aprendizado
sobre notas, claves, leitura musical das partituras. Conheci : Bethoven, Verdi,
Chopin, Mozart, Liszt, Bach (meu favorito) e outros tantos clássicos eruditos.
Absorvia as aulas como uma pequena
esponja que sugava todo fluído escorrido.
Como boa aprendiz e rebelde, queria
aprender as músicas contemporâneas e nas horas vagas, apurava meus ouvidos e
'arrancava' das teclas, músicas mais modernas e na aula seguinte, apresentava
ao professor Luiz que mesmo aborrecido, por não seguir as partituras, sentia-se
orgulhoso por saber-me esperta o suficiente para sozinha, 'tirar' músicas de
ouvido...
Anos de aprendizado tornaram o
piano meu maior companheiro. Passei a dividir com ele minhas alegrias,
tristezas, felicidade e agonias, através de músicas compostas para acompanharem
as letras poéticas que escrevia...Tornei-me compositora.
Até que um dia... ao regressar
para casa cansada de um mais um dia exaustivo de aulas e esportes, entrei
afobada para 'desabafar' com meu companheiro e estaquei ao ver a sala oca. Meu
amigo não mais estava lá...
-"Cadê meu piano?"
-" Calma filha..."
-"Cadê meu piano?"
- "Tivemos de vendê-lo filha.
Nossa situação financeira está difícil e ele nos rendeu um bom dinheiro.
Futuramente compraremos outro para você".
Caí de joelhos no chão e chorei...
Chorei por horas, saudosa de meu amigo musical...
Dias se passaram... semanas, meses
que tornaram-se anos e não mais consegui ter um novo amigo como aquele, porém,
a sensação de musicalidade jamais me abandonou e o sentimento de que a música
foi, é, e será sempre minha companheira
de todas as horas perdurará para o sempre, para a eternidade e terá no piano, o
maior companheiro de todas as eras...
Minha participação no Momentos de Inspiração 4ª Edição organizada pela Irene Moreira do Blog M@myrene.
O que acharam?
cheirinhos
Rudy
Que linda e tão emocionante isnpiração e participação,Rudynalva! Adorei te ler! beijos,chica
ResponderExcluirO piano foi companheiro e se foi, mas a musicalidade permaneceu inalterada noo seu SER.
ResponderExcluirParabéns pela participação.
bjs
Que lindo! Parabéns pela participação!
ResponderExcluirUma ótima e abençoada semana pra ti querida
bjs
Olá, querida Rudy
ResponderExcluirAchei o seu texto muito bonito pois é verdadeiro... muitas famílias se desfizeram do tal objeto de estima e musicalidade para cobrir despesas... É fato!!!
Vc manifestou bem o sentimento da menina... Lindo!!! Me coloquei no lugar dela...
Bjm de paz e bem
Rudy
ResponderExcluirMuito linda sua história! A música é uma companheira e quem já não teve seu piano que um dia se foi?
Beijos no seu coração!