| Encare |
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Sinopse: |
Lincoln |
Eu tinha certeza absoluta de que ser uma estrela do rock resolveria todos os meus problemas e curaria o buraco que existe dentro de mim. Mas sempre que eu subo no palco, a multidão gritando o meu nome, eu só consigo pensar no menino que deixei para trás. Tudo o que eu quero é voltar no tempo e fazer uma escolha diferente. |
Jace |
Eu fiquei com ódio do Lincoln quando ele sumiu dez anos atrás e destruiu meu coração. Meu ódio cresceu exponencialmente quando ele compôs um sucesso sobre nosso romance juvenil. Mas eu nunca o odiei tanto quanto odeio neste momento, parado na minha frente como se tivesse todo o direito de estar novamente no meu mundo. Ele não é o deus do rock que eu achava que fosse… ele ainda é o mesmo garoto desorientado que eu amei. Será que algum dia poderei confiar meu coração a ele outra vez? |
* Encare a Música é o primeiro livro na série Replay. Todos os livros da série focarão em um membro diferente da banda tendo uma segunda chance no amor. Todos os livros podem ser lidos de forma independente. |
Este livro contém descrições de autoagressão, pensamentos suicidas e momentos sensuais. |
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Faixa 1: Lado A |
Uísque e arrependimento |
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Lincoln |
O vento gelado queima a minha pele, mas outro trago de uísque ajuda a espantar o frio. O ar tem cheiro de neve. Faço um cálculo mental e me dou conta de que faltam apenas duas semanas para o Natal. |
Quando eu era criança, adorava o Natal. Era uma época do ano mágica e alegre. O cheiro dos biscoitos assando no forno, os pisca-piscas da árvore, escrever uma lista de presentes para o Papai Noel… |
Meu punho dormente segura a garrafa enquanto bebo outro gole. O líquido parou de queimar ao descer pela garganta há cerca de meia hora, por volta do momento em que as luzes da cidade ao longe começaram a desfocar. |
Não existe mais mágica. Na minha cozinha não tem ninguém assando nenhum tipo de doce. Não lembro qual foi a última vez que me importei em comprar uma árvore. Não é muito divertido decorar tudo sozinho. Além do mais, que sentido faz se não terá ninguém para desfrutar de tudo comigo? E quanto à lista de presentes… só tem uma coisa que eu colocaria nela, e é algo — alguém — que eu tive e me desfiz muitos anos atrás. |
Minhas pernas bambeiam enquanto vou até o anteparo da minha varanda para olhar a rua lá embaixo. |
Se eu caísse, com certeza morreria. Alguém se importaria? |
Já posso ver as manchetes: Estrela do Rock Pula para a Morte em Nova Iorque. |
Mas será que as pessoas realmente se importariam? |
Há alguns anos, meus colegas de banda poderiam ter se importado, antes de tudo começar a desmoronar, antes de discutirmos constantemente… |
Se ao menos eu soubesse que o nome da nossa banda — Queda Vertiginosa — seria tão apropriado quando escolhemos. Talvez fosse um mau agouro ou uma maldição. Talvez fôssemos apenas uns babaquinhas arrogantes que estavam no topo do mundo e achavam que nada pudesse nos derrubar. |
Oscilei quando me apoiei na balaustrada, testando a resistência. |
Eu não iria pular de verdade. Foi o que disse a mim mesmo. É o que sempre me digo quando fico com esse temperamento sombrio. |
Tento erguer a garrafa aos meus lábios mais uma vez, mas ela escorrega pelos meus dedos. Fico olhando enquanto ela despenca e espatifa na calçada lá embaixo. |
Oscilo de novo na balaustrada antes de recuar e pegar um cigarro no meu bolso. Nem costumo fumar, só quando estou bêbado e triste. |
Só consigo imaginar o que Jace diria se me visse agora. |
Este deveria ser o seu sonho, imbecil. Por que o está desperdiçando? |
— Não estou desperdiçando nada — argumento com o fantasma na minha mente. — Caso não tenha notado, eu tenho uma cobertura que vale milhões, carros esportivos para cada dia da semana e trepo com quem quiser… Estou vivendo a porra do sonho. |
Na minha mente, Jace bufa ironicamente e me lança um olhar daqueles que sempre fizeram meu saco encolher. Um daqueles olhares que eu recebia quando estava em maus lençóis com ele. |
Olha nos meus olhos e me diz que está feliz. |
Levei o cigarro à boca e o acendi, soltando uma lufada de fumaça forte. |
Não consigo nem mentir para a minha própria imaginação. |
Observo meu dedo traçar a cicatriz comprida que descia pelo meu pulso esquerdo. Não consigo sentir a pele áspera e elevada porque estou sentado muito tempo no frio, mas faz anos que memorizei a sensação. |
A lâmina no meu pulso foi a segunda tentativa de suicídio, e a que mais chegou perto do objetivo. Ainda me lembro da paz que se instalou em mim enquanto estava deitado no chão do meu banheiro e via meu sangue escorrer por entre as ranhuras do azulejo de mármore branco. Tudo ficou frágil, e a única coisa em que eu conseguia pensar era que nada na vida acontecia como você esperava, então qual era o sentido? |
Se ser uma estrela do rock não me fazia feliz, com certeza nada jamais faria. |
Exceto… |
Uma coisa costumava me fazer feliz. |
O rosto dele aparece atrás das minhas pálpebras ao me deitar na espreguiçadeira na varanda congelante. |
Ainda consigo vê-lo tão claro como o dia quando fecho os olhos. Consigo imaginar os olhos verdes musgo me contemplando com luxúria, raiva, amor, esperança… ficamos juntos por tempo suficiente para ver todos esses sentimentos e muitos outros mais. Ainda posso contar as sardas em seu nariz, aquelas que só apareciam no final de julho quando o bronzeado começava a desaparecer. Ainda sinto seus lábios nos meus, meus braços em volta dele, meu rosto no vão do seu pescoço. |
Jace foi meu lugar feliz enquanto eu crescia. |
Durante nove meses do ano, eu fazia contagem regressiva para os três meses de verão que a minha família passava na nossa casa do lago, três meses que eu passaria com Jace. |
Promete que vamos ficar juntos para sempre, Linc? |
As últimas palavras que ele disse ecoam em meus ouvidos. Não tive coragem de mentir para ele naquela noite, sabendo o que planejava assim que ele caísse no sono. Em vez de responder, eu o beijei sonoramente e o puxei para o meu peito. |
Um soluço sufocado escapa quando abro os olhos tempo bastante para bater meu cigarro num recipiente que tinha aqui fora para isso mesmo. Então, eles se fecham novamente, e eu me deleito com o torpor por dentro e por fora. |
Alguma parte do meu cérebro registra que eu preciso entrar, sair do frio, mas não consigo me importar. |
Em algum lugar ao longe, escuto uma batida, talvez alguém gritando meu nome. Sei lá, não estou nem aí. |
Tudo o que eu quero é que a dor pare. Tudo o que eu quero é voltar dez anos no tempo e fazer uma escolha diferente. |
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Faixa 2: Lado B |
17 Sonhos |
Lincoln |
Eu estava com dezessete anos. Meu estômago revirava de nervoso enquanto esperávamos nos bastidores para o nosso primeiro show que pagaram para a gente tocar. Tudo bem, bastidores talvez seja um pouco generoso demais. Tecnicamente, era a sala de descanso dos funcionários num boteco nos arredores de Cleveland. Mas foi o primeiro show que nos pagaram. Recebemos cinquenta contos por cabeça e tinha gente no bar que foi para nos ouvir tocar. |
— Isso é tão louco — exclamou Lando, dando uma espiada pela porta para ver quantas pessoas tinham lá fora. — Deve ter pelo menos umas doze pessoas lá fora, ou mais. E são todas, tipo, totalmente desconhecidas. Não é como tocar para a minha mãe e as amigas dela. |
— Somos uma banda de verdade agora — concordou Benji, tirando seus cabelos longos do ombro e dando pulinhos. — Eu convidei o London, então, não são todos totalmente desconhecidos, mas mesmo assim. |
— Aff, seu namorado está distorcendo nossos números — reclamou Lando. |
— London não é meu namorado — alegou Benji. — Ele é só meu amigo. |
— Ben, você e eu somos amigos, e eu nunca chupei seu pau — salientou Lando. O rosto de Benji ficou vermelho e ele se calou antes de cavar ainda mais a própria cova. — Mais alguém convidou outras pessoas? — perguntou Lando. |
Jude meneou a cabeça e girou as baquetas, e eu olhei de relance para o meu celular pela centésima vez, esperando ver uma mensagem de Jace. |
Normalmente, eu não teria esperança alguma de vê-lo entre o final de agosto e o de maio, já que eu morava em Ohio e ele morava no estado de Washington. Mas, por sorte, ele estava em Ohio com a família, visitando a tia para o Dia de Ação de Graças. Ele me contou que ela acabou de se divorciar, por isso, eles queriam garantir que ela não passasse o primeiro feriado pós divórcio sozinha. Eu sabia que era uma possibilidade remota ele conseguir dar uma fugida por algumas horas para me ver. Entretanto a minha banda foi contratada para o nosso primeiro show de verdade, e eu liguei para o Jace naquela noite, implorando que ele tentasse vir. Ele me disse que faria de todo o possível para conseguir ir, mas não tive notícias dele durante todo o dia. |
— Por que você parece tão chateado? Este é o começo do resto das nossas vidas. — Jude me deu um tapa nas costas. |
— Eu sei, estou animado. Só que não tenho notícias de Jace. Ele iria tentar vir, mas acho que não virá. |
— Que merda — compadeceu-se Lando. |
O gerente veio e nos fez um sinal dizendo que estava na hora de subir no palco. Respirei fundo, borboletas pareciam estar em guerra no meu estômago, e um arrepio de animação cobria a minha pele. Olhei para a minha banda, meus melhores amigos, meus irmãos, e bati no punho de cada um deles. |
— Vamos com tudo — sussurrei animado. |
— É isso aí — concordou Lando, enquanto Benji e Jude vibravam empolgados. |
Subimos no palco, sem nos importarmos que os clientes do bar não pareciam interessados na banda que se preparava para tocar. |
Passei a alça da minha guitarra pela cabeça — um presente de aniversário de Jace no ano passado — e olhei para trás para me certificar de que os outros caras estavam em posição e prontos para começar. |
Meu olhar passeou pela pequena plateia, até encontrá-lo no canto de trás, então o encarei ao mesmo tempo que meu estômago embrulhava. Um sorriso rápido se abriu em meus lábios e meu nervosismo desapareceu instantaneamente. |
Oi, balbuciei para Jace. |
Oi, balbuciou de volta. |
E foi assim que fiz meu primeiro show pago, com um sorriso bobo no rosto e tanto amor no coração que pensei que fosse explodir. |
*** |
Depois da nossa apresentação, tirei a guitarra e pulei para fora do palco, indo direto em direção ao Jace. Meus dedos coçavam para sentir sua pele, e meus lábios almejavam os dele. |
Ele estava nos fundos do bar me esperando com um sorriso. Quando cheguei até ele, meu coração batia tão forte que pensei que fosse pular para fora do meu peito. Puxei-o num abraço e encostei a testa na dele, deixando nossas respirações se misturarem e nossos narizes roçarem. |
— Você veio — sussurrei, passando os dedos pelos seus cabelos. |
— Eu não perderia isso por nada no mundo. Você foi fantástico. Você vai ser uma estrela do rock e eu vou afastar homens e mulheres de você com um pedaço de pau. |
— Eu sempre serei só seu — prometi a ele enquanto a euforia tomava conta de mim pelo resto da cena que ele criava. Uma estrela do rock… isso não seria incrível? Talvez algum dia… |
Encostei os lábios nos dele, sem me importar com quem estava olhando. Eu sabia que algum dia estaria encarando o mundo e chamaria Jace de meu marido. Algum dia, estaríamos juntos de verdade, sem milhares de quilômetros entre nós durante nove meses do ano. |
— Eu amo você — murmurei contra seus lábios. — Eu te amo tanto. |
— Por Deus, Linc, eu também te amo. Mais do que jamais pensei que poderia amar alguém. |
Outro beijo, desta vez nossos lábios se abriram e nossas línguas se acariciaram e se exploraram, reconhecendo-se depois de três meses de separação. Foi agridoce. Um leve alívio antes de mais seis meses separados. Mas, depois do próximo verão, tudo seria diferente. Nós estaremos formados e estamos conversando sobre ir para a mesma universidade. Estes seriam os últimos seis meses que ficaríamos separados, e esse pensamento encheu meu coração de alegria, expulsando todas as partes obscuras. |
— Você já precisa voltar para a casa da sua tia? |
— Preciso. Queria não precisar, mas disse que iria dar uma volta. Não consegui pensar numa mentira melhor. |
— Entendo. Me liga mais tarde? Adoro ouvir sua voz antes de dormir. |
— Você é tão ridículo — brincou Jace. |
— Ei, você ama minha alma de artista ferido, como você diz com tanto carinho. |
— Eu amo — concordou Jace. — Vou sentir sua falta. Mal posso esperar para chegar o verão de novo. |
— Eu também, Sardentinho. Eu também. |
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Dois anos depois |
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— Puta merda, ouviu isso? — perguntou Jude, colando o ouvido na porta verde. Ele se virou sorrindo, eu estava igualmente ansioso e apavorado. — Dá para ouvir o público daqui. Isso é doideira. |
Jude fez uma dancinha da vitória enquanto Lando e eu forçamos sorrisos. Eu não sabia o que estava acontecendo com Lando, mas ele estava diferente nas últimas semanas, mais quieto, mais triste. Achei que ele estaria empolgado para começar nossa primeira turnê. Nosso primeiro álbum tinha ficado no topo das paradas com várias músicas e quase todos os locais das turnês estavam esgotados. Era isso, todos os nossos sonhos estavam se concretizando. |
Então, por que parecia tão vazio? |
— Estão prontos? — Archer enfiou a cabeça pela fresta da porta para perguntar. |
— Pode crer! — gritou Benji, pulando nas costas de Jude, fazendo um movimento de laço sobre a cabeça dele. |
Isso abriu um sorriso no rosto de Lando, mas, mesmo assim, não consegui entender. Só conseguia lembrar do nosso primeiro show de verdade e em como foi ver Jace em meio ao público. |
Eu me perguntava o quanto ele me odiou por deixá-lo. O quanto ele me odiou pela música Alameda Cherry. Será que algum dia ele me perdoaria? Será que algum dia eu teria a chance de explicar por que tive que fazer o que fiz? |
Então, eu o imaginei na Universidade do Michigan, uma das melhores faculdades de epidemiologia, aproveitando os benefícios de uma bolsa integral. Era tudo o que ele sempre quis; claro que eu tinha que garantir que ele seguisse o próprio sonho. Afinal, ali estava eu, vivendo o meu. |
Segui os caras para fora da sala verde, direto para o palco. A multidão gritava, e foi tudo como eu sonhava desde quando era um garotinho ouvindo Led Zeppelin no meu quarto. |
Olhei para a minha banda, com um sorriso estampado no rosto. |
— Olá, Nova Iorque! |
Outro grito veio da multidão e meu sorriso se tornou autêntico. E quando começamos a tocar… a música é como um batismo para a minha alma fragmentada. |
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Bastantes novidades ,fico só olhando mesmo rsrs
ResponderExcluirAmei o catálogo da Vida & Consciência. Saudades de ler Zibia
ResponderExcluirFeliz em ver tantos livros da Zíbia!!!Eu a lia tanto, mas admito que faz tempo que não leio um romance espírita.
ResponderExcluirDeu saudades!
Os lançamentos da Nemo, da Dark...enchem meus olhos. rs
Mas continuemos a sonhar rs
Beijo
Angela Cunha Gabriel
Olá Rudy!
ResponderExcluirNossa quantos lançamentos maravilhosos, como sempre entrando mais alguns pra lista de desejados.
Bjs
OLá Rudy!
ResponderExcluirUau. muitas novidades, adoraria comprar alguns!!