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17/11/2024

DIVULGAÇÃO DE EDITORAS #41 - ESCALA, NEMO, GALUBA, VIDA & CONSCIÊNCIA, AVEC, ALEPH.

 Olá alegres e felizes!


Divulgação de editoras:

01-) ESCALA:

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02-) NEMO:


03-) GALUBA:


Comece a ler O Segredo do Jogador

A história começa quando uma bailarina, um jogador de futebol e uma vaca se encontram.

    

Sinopse:

EXTRA! EXTRA! O famoso jogador de futebol australiano Dean Thorn largou sua carreira no auge e voltou para casa. Ainda não sabemos o que o levou a tomar essa decisão, mas seja lá qual for o motivo, não aconteceu em campo.

Rafi Dalton é bailarina. Ou era. Considerada uma grande promessa da dança, não soube balancear a vida pessoal e profissional e acabou largando tudo para viver como nômade, pelo interior da Austrália, colhendo frutas, até decidir o que fazer com o resto da sua vida.

Dean Thorn, depois de 13 anos no exterior construindo uma carreira de sucesso no mundo do futebol profissional, voltou para casa, para o vinhedo da família. Está na época da colheita das uvas, o que significa muitas pessoas trabalhando na fazenda, entre elas uma mulher linda, independente, forte e que não o reconhece como o famoso jogador.

Duas histórias que se entrelaçam clamando por um futuro, mas será que o passado vai permitir essa união?

 

Prólogo

 

Os pais da menina lhe disseram que ela era bailarina.

Aos três anos de idade, sua mãe a matriculou numa escola de balé. Aos cinco, assumiu a ginástica olímpica e, aos seis, exercícios de calistenia. A mãe dela se gabava para as outras mães que seu bebê seria um tesouro nacional e elas reviravam os olhos pelas suas costas, resmungando que seu bebê não seria nada além de uma diva.

Dançar era natural para a menina, fácil, um talento que corria ousado em seu sangue. Quando começou o ensino fundamental, ela passava os finais de semana nas aulas e treinava durante a semana, consumida por um mundo de pliés e espacates, comportamento e disciplina.

— Você é uma bailarina, Rafaela — dizia seu pai quando ela reclamava que não podia brincar com os amiguinhos da escola. — Bailarinas têm que treinar todos os dias. — Então, ele olhava para ela seriamente sobre os óculos. — Você quer ser uma bailarina, não quer?

— Quero — respondia ela baixinho.

— Então, leve a sério.

Mas o que a menina queria mesmo era que ele olhasse com mais frequência para ela. Na escola, desenhara uma imagem de seus pais, mas não conseguira lembrar a cor dos olhos dele. Ela os deixara brancos.

Treinava todos os dias. Dormia com a meia-calça branca e usava um coque no cabelo para ir à escola. Dançava no estúdio enquanto os seus amigos brincavam de esconde-esconde e não vinham encontrá-la. Ela levava a sério.

A menina era conduzida para a frente de todas as aulas de dança. Os professores sorriam e mandavam que as outras meninas a observassem. Ela gostava disso, que sorrissem para ela. Então, treinava até seus músculos tremerem de cansaço, desesperada para agradar incansavelmente os professores. Pouco depois, eles se acostumaram com a sua habilidade, reconheceram que ela estava destinada a grandes feitos e seus sorrisos transformaram-se em críticas. Gritavam por cima da música, exigindo mais dela, querendo que sua perna chegasse mais alto, seus pés ficassem mais rente, quebrando seu espírito sem perceber que estavam açoitando um cavalo que já corria o máximo que conseguia.

Aos quatorze anos, começou o treino integral na Escola Australiana de Ballet.

Aos dezessete, foi escalada como bailarina principal, dois anos seguidos. Ela era a Princesa de Ponta, a Rainha Contemporânea, a garota que podia flutuar, cair e se flexionar como nenhuma outra. Dominava o palco como realeza, mas era tratada como pária pelos seus colegas.

— Você é perfeita — dizia sua mãe sobre o problema, gesticulando para o corpo da filha de forma indiferente. — Ninguém gosta da perfeição.

Com o coração vazio, a menina se deu conta de que isso explicava muita coisa.


Capítulo Um

 

Dean Thorn corria como fazia todas as manhãs nos últimos quinze anos. O coração num ritmo saudável, músculos energizando, e a mente em outro lugar. A estrada de terra não era tão estável quanto a pavimentada que ele estava acostumado, mas a superfície estendia-se por Yarra Valley, então, ele a usava.

Não era noite, mas ainda não tinha amanhecido: sua hora preferida para correr.

Ele rodeou uma elevação e avistou uma figura em uma encosta à frente. Uma mulher. Mesmo na luz fraca do amanhecer, ele pôde ver seu rabo de cavalo alcançar sua cintura. Ela estava sentada com os braços em volta dos joelhos, vestia uma regata e legging e, conforme chegava mais perto, pôde ver fios brancos estendendo-se de seus ouvidos para uma braçadeira. Sua postura era impecável: ombros para baixo e coluna ereta. Ela olhava em direção ao nascer do sol iminente, com a cabeça inclinada, esperando.

Ela parecia em paz. Feliz.

Alheia à enorme vaca aproximando-se por trás.

O animal vinha pela grama na beira da estrada, cauda solta e pescoço relaxado, com o olhar fixo em suas costas. A várias cercas de distância, parou para arrancar um chumaço de grama. Dean não era um perito no assunto, mas a vaca parecia alimentada e, sem bezerros por perto, se convenceu de que ela não era agressiva.

Ele diminuiu o ritmo conforme se aproximava e a mulher o encarou, sua expressão indecifrável no escuro. Franzindo a testa, ela desviou o olhar.

Ele gostou disso. De ser ignorado. Foi um dos motivos por que voltou para casa.

Meia dúzia de balões de ar quente pairavam sobre o vale, vigilantes, silenciosos. As chamas queimavam acima das cestas, empurrando-os mais alto, brilhando como lanternas etéreas penduradas no céu. Quando o sol nascer detrás das montanhas, as cores dos balões se destacariam contra o céu de verão: vermelho e verde, laranja e roxo. O amarelo ganha mais destaque e parece uma grande luminária flutuando sobre o mundo.

— Ei — chamou ele.

— Olá. — O tom de voz dela era cauteloso quando olhou outra vez para ele.

A uma distância de meia dúzia de passos, ele parou, pisando em cascalhos, limpou a testa com a braçadeira e percebeu que a vaca havia voltado a andar. Estava a menos de dez metros.

— Você mora aqui?

Ela tirou os fones de ouvido. Sua silhueta era esbelta contra o céu em tom de sépia, insignificante comparada à sombra que vinha de fininho atrás dela.

— Perdão?

— Você mora por aqui?

— Não. — Ela acenou em direção às montanhas no horizonte. — Estou esperando o nascer do sol. Não deveria estar sentada aqui?

— Depende.

Ela se mexeu, olhando para ele adequadamente, com os ombros tensos.

— De quê?

— Se você está familiarizada com alguma vaca na região.

Um momento de pausa.

— O quê?

— Conhece alguma vaca?

— Não — falou intrigada. — Deveria?

— Não. — Ele deu alguns passos mais para perto. A criatura a alcançou com o focinho, quase no ombro dela. Ele gesticulou. — Parece que ela te conhece, só isso.

A mulher o encarou. Depois, virou para trás, viu-se cara a cara com uma enorme vaca e recuou com um grito. A vaca enrijeceu, abanou a cauda e a mulher ficou de pé e cambaleou para trás, ficando fora de alcance.

— Nossa, obrigada pelo aviso — falou ela com o tom de voz levemente agradecido. — Se fosse um dragão, eu estaria pendurada pelas garras na metade do vale neste momento.

— Não quis te assustar.

Ela riu.

— Bom trabalho.

Ela era mais nova do que ele pensara a princípio. Não tão jovem a ponto de fazer pirraça, mas jovem o bastante para ainda ser estudante.

Dean analisou a estrada à frente e percebeu um portão aberto a alguns metros adiante. A encosta não estava cheia de vacas leiteiras, apenas algumas cabras, um galinheiro e um cavalo.

— Ela é um animal de estimação — supôs ele.

A postura da mulher relaxou um pouco, embora mantivesse os braços cruzados.

— Certo — disse ela, olhando para ele. — Então, ela vai voltar sozinha para casa quando estiver pronta?

Ele quase sorriu. Apontou para o portão aberto.

— Então, vou levá-la de volta.

— Ah. Eu ajudo. — Ela foi na frente, os passos rangendo levemente em seus tênis surrados de corrida.

Ele a seguiu. O ar da manhã ainda estava calmo e fresco. A região vinícola se estendia em direção às montanhas distantes, uma paisagem de vinhedos que aguardavam a colheita. Pontinhos de luz piscavam a certa distância, os carros dos madrugadores que já estavam na estrada. Era lindo, um vale verde e tranquilo, com uma beleza de tirar o fôlego, a uma hora de carro de Melbourne.

Ele já tinha visto a paisagem antes.

Mas a mulher não. Ela tinha uma forma esbelta e firme por baixo das roupas esportivas. Atlética e, ainda assim, estruturalmente frágil. Ela manteve-se na frente, virando diversas vezes para trás. Ela olhava para os balões de ar quente quando virava, a vaca seguia atrás deles, então, falou para Dean:

— Não quero perder o nascer do sol.

Ele assentiu. Ele não era do tipo que notava o dia nascendo. Não mais. Correra por tantas vezes no amanhecer que só o que registrava era quando o sol começava a extrair suor da sua pele. E, desde que voltou para casa, o verão australiano o extraía de forma veloz e furiosa. Ele corria como um homem com muito compromissado: dez quilômetros antes do café da manhã e só depois seu dia começava de verdade.

— Seu rosto me é familiar. Eu te conheço? — perguntou-lhe, inclinando a cabeça, levemente intrigada.

— Você, eu não sei.

Mas centenas de milhares de fãs de futebol no mundo, sim.

— Conheço, sim — disse ela, olhando para ele. — Não consigo me lembrar de onde.

Ele não parecia conhecê-la. Ele assimilou suas feições, seu pescoço. Cabelos escuros, quase pretos, estavam presos num rabo de cavalo que caía sobre seu ombro direito. Braços musculosos, magros e fortes. Não, ele não a reconhecia.

Uma verdade doentia borbulhava em seu estômago.

Isso não significava que eles não haviam se encontrado.

— Ah, veja! — Ela apontou para onde algumas nuvens no horizonte ficaram douradas. Depois de duas dúzias de respirações, o sol brilhava acima das montanhas, uma explosão de cores e luzes no céu. Amarelo-girassol, âmbar e açafrão, e um azul pastel dominava logo acima.

A luz dava cores ao rosto da mulher. Pele bronzeada, cílios escuros e, quando ela olhou para ele, ele percebeu olhos enormes, curiosos, acolhedores e deslumbrantemente azuis.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— A espera valeu a pena?

— Claro — disse ela, e lhe golpeou com seu sorriso.

Dean sentiu o impacto em seu peito, o estrago em sua pulsação. Ela tinha que ser cautelosa ao lançar um sorriso como esse por aí. Cheio de dentes brancos e sentimento autêntico. Precisava de um aviso, pelo menos. Dar uma chance ao homem.[MN1] 

— Que bom — disse ele, aliviado com a força da sua voz. Depois, tirou o celular do bolso e olhou a hora. Quase 7h. Seu irmão deveria estar andando de um lado para o outro na cozinha. O trabalho começava cedo durante a colheita.

A vaca caminhava despreocupadamente atrás deles.

— Você me parece mesmo familiar — disse ela, andando para trás e afastando uma mosca de seu rosto. — Mas não muito.

— Você assiste esporte?

— Balé — respondeu ela, o que ele tomou como um não.

— Devo ser só mais um rosto na multidão, então.

— Queria eu.

Ele franziu a testa.

— Bem… — Ela desviou o olhar com um meio sorriso desconfortável. — Um rosto na multidão quer dizer um tipo de rosto comum, não é? Eu só quis dizer que queria que seu tipo de rosto fosse comum.

— Ah. — Ele reprimiu um sorriso. — Por quê?

Ela estreitou os olhos ao inclinar a cabeça novamente.

— Você sabe.

Era cruel querer que ela falasse, mas ele continuou:

— Não.

— Porque… — Ela puxou a bainha da camiseta abaixo de seus quadris, com o rosto corando. — É bonito de se olhar.

Isso não deveria ter deixado Dean tão animado. Mas ele achou que já tivesse ouvido de tudo.

— Eu queria que seu tipo de rosto fosse comum — repetiu ele. — Não é de se esquecer.

Estalando a língua, ela virou e continuou andando.

O calor se infiltrou nos espaços frios dentro dele. A tranquilidade veio junto… e um tipo raro de conforto.

Na cerca, eles passaram pela porteira aberta. A vaca parou lentamente na estrada, olhando para eles.

— Ela suspeita da jogada — sussurrou a mulher.

— Que pena. — E, com isso, ele gritou — Anda!

Bufando, a vaca os seguiu para dentro. Dean disse:

— Fique por perto. — E deu a volta no animal, a mulher ao seu lado estava tão perto que ele poderia ter pegado sua mão. Eles voltaram para a estrada e ele fechou a porteira. A vaca os encarava de soslaio.

— Agora eu me sinto mal — disse a mulher com os braços esticados ao lado do corpo.

Dean suspirou.

— São esses olhos. Parecem janelas da alma.

Perto como estava, ele podia ver uma minúscula bailarina de prata em seu lóbulo.

— Olhe para o outro lado.

Ela olhou, arqueando uma sobrancelha para ele.

— Para que lado você vai, homem sem coração?

Levantando os lábios, ele fez um gesto para a direita, onde a estrada de terra cortava a rodovia distante.

— Eu também — disse ela. — Vamos?

Com seu assentimento, eles seguiram seu caminho e, por meio minuto, correram lado a lado. Olhando de relance, ele viu que os lábios dela estavam fechados, com os cantos ligeiramente erguidos. Sem forçar para manter o ritmo. Ele aumentou sua velocidade e ela se igualou a ele.

Interessante. Ele nunca tivera uma parceira de corrida antes. A elite da primeira divisão do futebol não via mulheres como fisicamente semelhantes. O ritmo constante dela atiçou um lado primitivo dele, despertando uma determinação em vencê-la. Era infantil, básico e até bobo, mas a presença dela o empurrava mais rápido e com mais força pela estrada.

As ligas profissionais tinham que ver isso.

— Pode ir na frente — disse ela com a voz inalterada pelo movimento. — Você parece… — Ela o analisou com os olhos estreitos. Como se jogasse futebol profissionalmente pelos últimos treze anos? — em forma — concluiu ela.

— Já estou diminuindo o ritmo para parar — disse ele.

— Eu também. Mas posso fingir que a minha diminuição de ritmo é mais lenta para deixar isso menos estranho.

Dean lutou contra outro sorriso. Estranho. Ele não sentia vontade de sorrir há meses e ela o fizera reprimi-los em curtos intervalos de tempo.

— Boa tentativa.

Ela parecia confusa.

— Você só quer dar uma conferida na minha bunda.

Ela dificilmente perdia o compasso.

— Tarde demais, já fiz isso.

— Não ficou impressionada?

Os olhos dela brilharam.

— Já vi um monte de bundas bonitas na minha vida, só isso.

E ele já vira muitas mulheres, mas nenhuma delas o fez se sentir tão à vontade. Os passos deles rangiam juntos enquanto o sol matinal aquecia suas costas. Ela não transpirava. Nem mesmo um pinguinho. Aquele instinto primitivo grunhia e ameaçava, obrigando-o a aumentar o ritmo novamente.

Ela o acompanhou.

Ele olhou intrigado.

— Pensei que tivesse dito que me deixaria ir na frente.

— Acontece que sou competitiva.

Aquele impulso de sorrir voltou.

— Eu só estava ouvindo um podcast sobre café — disse ela, puxando conversa. A ponta de seu rabo de cavalo roçou no braço dele ao balançar. — Foi por isso que não ouvi a vaca.

— Por que café?

Ela hesitou.

— Posso acabar trabalhando numa cafeteria. Imaginei que é algo que eu deveria conhecer.

— É verdade que uma maçã te deixa mais acordado que cafeína?

— Não para o meu tipo de cansaço.

— Cansaço do tipo corrida antes do amanhecer?

— Ah, não. — A respiração dela acelerou. — Só saí hoje de manhã porque perdi o cardio. Mas começo num trabalho novo hoje. Ficarei muito cansada para conseguir correr depois que começar.

Então, eles não se encontrariam na estrada outra vez. A decepção o fez ficar olhando para ela: o brilho em suas bochechas, o peso de seus lábios abertos. Lábios feitos para rir. Para provocar. Sem dúvida nenhuma, para experimentar. O coração acelerou dentro dele, ávido e irresponsável.

Irritado, Dean bloqueou o impulso. Seus dias de apetite sexual insaciável ficaram no passado.

Ele perguntou:

— Qual é o trabalho?

— Colher uvas.

O final do verão e o outono eram temporadas de colheita por todo o Yarra Valley. Estávamos no meio de fevereiro. Colhedores de uva em abundância.

— É para pagar pelos livros da faculdade?

— Não.

— Tirando um ano de folga dos estudos?

— Não.

— Então, já terminou a faculdade?

— Não — disse ela, começando a soar cansada. — Mas você já fez três perguntas, só faltam dezessete. Vou te dar uma pista: não sou um vegetal nem um mineral.

Ah… seu corpo sabia exatamente o que ela era.

— Estou aqui porque eu quero — explicou ela. — Pelo menos por enquanto.

O andar firme de seus passos quebrou o silêncio do vale. A cada vinícola que eles passavam, Dean esperou que ela parasse, só que ela continuava firme ao seu lado, passando por campos gramados com orquídeas à esquerda e pela vinícola de Chardonnay à direita. Ao redor da curva na estrada, descendo a encosta e sobre a pontezinha que um dia fora o lugar secreto onde Dean se escondia. Quando saíram numa fileira de eucaliptos, ele avistou sua casa ao longe.

A mulher falou num ímpeto.

— Você já sentiu como se só olhar não fosse suficiente?

— Ah… — Dean olhou para ela com o sangue acelerando.

— Estamos aqui, neste vale espetacular — continuou ela, as palavras trabalhavam juntamente com sua respiração. — O sol nos espia lá de cima. Tem esse cheiro de começo de um dia quente. E aqueles balões. Deus, eu amo aqueles balões. Estou bem aqui no meio de toda essa beleza, mas sou só uma espectadora.

Isso, ele entendia. Uma vez, ele marcou o gol da vitória de um jogo de final de Copa do Mundo. A multidão urrou igual ao sangue em seus ouvidos, seus colegas de time o jogaram para cima e ele olhou para o céu com os braços estendidos, sentindo como se todo o estádio estivesse explodindo para fora de seu peito. Desde então, ele não sentiu nada como aquilo.

— Eu costumava fazer parte de algo lindo — prosseguiu ela. — Costumava ter plateia. Sinto falta. Considerando tudo, deve ser estranho sentir falta daquilo.

— Espero que a imprecisão de seu comentário me perdoe por não ter entendido.

— Desculpe — disse ela olhando para ele. — Só estou falando para te distrair do fato de que você não consegue me ultrapassar.

— Sério? Acontece que eu também sou competitivo — anunciou ele e saiu correndo.

Ele ouviu os passos dela acelerando.

— Ei!

Ele diminuiu o passo brevemente, permitindo que ela o alcançasse. Depois, numa partida em pé de igualdade, ele arrancou na frente, deu quinze segundos, vinte, depois parou e se virou, correndo de costas para deixá-la se aproximar.

Ela corria tranquilamente, com o abdômen contraído e os ombros para trás, os seios pequenos protegidos por um sutiã esportivo. Ela olhou para ele, mas ele sabia que ela não fazia questão.

— Se sente melhor? — indagou ela.

— Muito.

Ela riu e ele sentiu sua risada em seu peito. Por baixo dos ossos, da cartilagem e dos músculos, uma onda de sensações num espaço entorpecido. Quando ela ficou para trás, ele parou completamente. Os lábios dela se curvaram e ela fez menção de contorná-lo, porém, ele desviou, bloqueando seu caminho.

— Ah… — disse ela, derrapando ao parar.

Sua respiração estava rápida, igual a dele.

Repentinamente instável, igual a dele.

Dean chegou mais perto e observou algo mudando em seus olhos. Reconhecimento, como se a mesma atração dentro dele tivesse despertado nela. Os olhos dela escureceram, promessas azuis de beijos salgados à meia-noite e longas noites de verão. Ele não conseguia se lembrar da última vez que uma mulher tinha estado tão perto, com tanta determinação, sem saber quem ele era e o que isso poderia significar para ela.

Os olhos dela caíram para a sua boca. Naquele instante, Dean se sentiu um homem comum que teve a felicidade de encontrar uma mulher comum que juntos, poderiam fazer a vida extraordinária. Como se, apesar de tudo que deixou para trás, só custasse o mínimo para que ele a adorasse, como o som de sua risada ou o cheiro de sua pele.

Exaltado, ele pegou a mão dela.

— Onde posso te encontrar?

 

***

 

A pergunta do homem a espantou. A voz dele ficou suave, igual fumaça, o toque de um sotaque inglês ondulando no fim, e Rafi Dalton respirou, uma inalação inebriante, permitindo agarrar-se aos seus pulmões e acelerar seu coração sem pensar.

Ela não queria dizer a ele.

Mas, mesmo assim, foi o que fez. Ela queria que este homem a encontrasse; que batesse à porta de sua cabana no meio da noite com aquele olhar faminto em seu rosto.

Mas ela não seria capaz de convidá-lo para entrar. Sua situação não lhe concedia entregar-se aos amantes. Ou entregar-se a qualquer coisa. Ela não podia sair depois do trabalho e ele com certeza não poderia deslizar para baixo do lençol, ao lado dela.

Agitada, Rafi respondeu:

— Não pode.

Ele soltou sua mão, praticamente se encolhendo.

— Eu não posso — justificou ela.

Sua testa franzida em resposta foi lenta como a fome que recuava de seu olhar.

Ela não se considerava o tipo que tinha relacionamentos rápidos; nunca foi tentada a considerar. Mas, enquanto corriam lado a lado, ela ficou imaginando. O homem era cheio de energia e muito rápido. Não que um corpo forte fosse o bastante para deixá-la excitada. Já passaram muitos assim pela sua vida: ousados, elegantes e dominantes.

Não, o calor estranho que a aquecia fora aceso pelo cheiro dele tão de perto. O jeito que seu sorriso atingiu direto a sua barriga. E tinha algo naqueles olhos, castanho-escuros, seguros e cheio de cinismo, como se ele olhasse na alma, mas raramente encontrasse o que procurava.

Ela queria que ele encontrasse nela.

— O que quero dizer é que — disse ela, enrolando o fio dos fones de ouvido nos dedos — estou tentando criar opções para a minha vida. Mas nenhuma delas envolve homens. Preciso ser independente. — Ela precisava fazer suas próprias escolhas. Sua vida fora determinada por outras pessoas durante tempo demais.

A expressão dele endureceu.

— Eu não deveria ter perguntado.

— Não — afirmou ela, porque, em outra realidade, não precisaria nem pensar. — Foi legal.

Isso aliviou seus lábios ao mais fraco dos sorrisos.

— Você sabe por que perguntei — murmurou ele. — Não foi para ser legal.

— Foi legal pra mim — ela conseguiu falar, olhando para a estrada. A propriedade ao lado pertencia ao seu novo empregador, os portões de ferro forjado estavam abertos. O metal foi torcido para representar o desenho da marca de vinho, curvas minimalistas formavam dois balões de ar quente sobre uma região montanhosa. Ela deu um passo em direção ao portão, olhando de volta para ele.

— Eu fico aqui. Obrigada por… não me avisar de verdade sobre a vaca.

A atenção dele foi para os portões. Permaneceu ali.

— É melhor eu ir — declarou ela. — Preciso de um segundo café antes de começar o trabalho. E vai começar logo.

Olhos escuros fixaram-se de volta nela. Agora desconfiados, com as feições marcadas.

— Prossiga.

— Tudo bem. Até mais.

Sem esperar nada, Rafi levantou a mão num tchau. Depois, com um aperto estranho no peito, ela correu pelos portões abertos em direção a uma vida que não tinha espaço para um homem como ele, ou homem algum.

Ela não olhou para trás.

 

***

 

Meia hora depois, Rafi estava de pé com uma dúzia de outros colhedores, com o sol na cara, saboreando o final do café em sua garrafa térmica.

— A vida é assim — falou.

— Não pode ser — respondeu Patrícia, sua amiga, com um bocejo. Seus cabelos loiros curtos estavam escondidos sob um chapéu e óculos de sol cobriam seus delicados olhos castanhos. Uma mulher que parecia mais nova que seus 52 anos e, ainda assim, já estava aposentada graças à carreira difícil e rápida de seu marido como gestor de investimentos. — Nós levantamos no escuro.

Rafi virou para olhar a vinícola Balloon Vale, dando o gole final e colocando a garrafa térmica na cerca mais próxima.

— A liberdade exige pequenos sacrifícios — respondeu ela com sabedoria. Como trabalho duro, noites sem dormir e a vida na estrada. Como perdas que deixaram lágrimas em seu travesseiro e rachaduras em seu coração. E, claro, como levantar no escuro. — Mas vale a pena.

Patrícia balançou a cabeça.

— Disse a madrugadora.

Ela sorriu.

— Colher frutas foi ideia sua e do Harry, lembra?

— Não. Não consigo acessar memórias incriminadoras antes das 9h.

Rafi riu enquanto admirava a terra de seu empregador temporário. Uma mansão de tijolos de barro coroava o topo da colina da propriedade, dois andares de altura, mas com a ampla extensão de um pássaro-mãe se jogando sobre um ninho de ovos. Uma varanda de frente amontoava-se sob os beirais, glicínias sufocando os pilares e, enquanto ela observava, dois homens saíram da casa. Um bateu nas costas do outro enquanto desciam para o vasto gramado na frente.

— Pat — chamou Rafi, observando-os se aproximarem. — São os Irmãos Balloon.

Elas conheceram Rue (apelido de Rupert), o mais novo dos dois, na noite anterior. Um homem de vinte e poucos anos, com olhos castanhos brilhantes e uma risada fácil, que lhes mostrara o alojamento, uma fila de pequenas cabanas, e lhes disse que se precisassem de qualquer coisa durante a noite, bem, ele provavelmente estaria dormindo, mas que elas podiam ficar à vontade para acordar o irmão dele.

Rafi olhou curiosa para o irmão. Seu estômago se contraiu.

O corredor de hoje cedo.

Seu passo era longo ao se aproximar dos trabalhadores reunidos onde o gramado encontrava a safra. Isso explicava por que ele parecia familiar. Os dois irmãos eram altos e com o corpo bonito, com cabelos e olhos da cor de terra úmida e feições que deixariam qualquer uma muito inclinada a olhar três vezes e depois teria vontade de olhar de novo.

Ela ficou na vontade desde que o deixara.

Enquanto o rosto de Rue tinha a suavidade de um homem que estava sempre a beira de um sorriso, o maxilar do outro homem era mais cerrado, forte. Ela o tinha visto chegar perto de sorrir mais cedo, mas achou que a coisa pra valer era uma raridade. Uma camisa xadrez solta cobria seu peito largo, meio enfiada no cós da calça jeans, uma roupa de trabalho normal escondendo seu corpo atlético, mas de forma alguma o diminuía. Ele enganchou um polegar no passador do cinto quando parou.

Isso não é ruim, pensou ela com uma racionalidade tensa. Ela mal o olhava. Longe dos olhos e longe do coração, certo?

Rue falava com ele sobre seu ombro. O homem assentiu, aparentemente achando graça.

Depois, olhou diretamente para ela. O impacto de sua atenção repentina tirou o ar de seus pulmões, uma mistura ofuscante de reconhecimento e tensão sexual.

Certo, então, talvez seja um pouquinho ruim.

As sobrancelhas do homem franziram e Rafi desviou o olhar bruscamente.

— Bem-vindos — disse Rue em voz alta — a mais uma colheita em Balloon Vale. Para os trabalhadores que estão voltando, as coisas mudaram um pouco por aqui. Nossos pais se aposentaram, então, Dean, meu irmão mais velho, e eu estamos administrando o lugar.

Dean. O estômago dela se contorceu, uma sensação doce, como flores se fechando depois do escurecer. Ela nunca conhecera um Dean.

— Vocês colherão pinot noir. Temos outro pessoal designado para o chardonnay descendo a estrada. As horas de trabalho dependerão da mudança de tempo. Quase sempre começamos ao nascer do sol. Se a previsão for de chuva, lidaremos com instabilidade, então se preparem. Para hoje, a previsão é de tempo quente, assim, encerraremos no início da tarde.

Rafi puxou a aba de seu sombreiro mais para baixo em seu rosto.

— O almoço será servido na cozinha comunitária — prosseguiu Rue, gesticulando vagamente para trás dele. As cabanas ficavam na base da colina atrás da mansão, fora de vista. Ela lembrou-se de ver uma cozinha ao lado delas. — Se trabalharmos até tarde, também será o jantar. Isso também serve para quem está acampado em Healesville. Agora, os baldes estão à direita e o pinot noir, atrás de vocês. Colham com delicadeza. Colham depressa. Alguma pergunta?

Alguém que estava na frente do grupo falou, baixo demais para Rafi ouvir. Rue sorriu e olhou para o irmão.

Dean assentiu.

— Na sexta-feira à noite, neste gramado — disse ele com a voz baixa, porém clara.

Nasceu uma aclamação e Rafi aproximou-se de Patrícia.

— O que eles disseram?

A amiga bufou.

— Você que é a jovem aqui. Me diz você.

— Tudo bem, certo. — Rue falou por cima da animação. — Que comece a colheita!

 

Fofo! [MN1]

fbigin


Para ler no final de semana: Temporada de Pecado

Romance de época sensual rápido e divertido.

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Se você gosta de romance de época com espionagem, sociedades secretas, cenas muito sensuais, rápido e divertido de ler, você vai amar Temporada de Pecado.

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Sinopse:

Um libertino, uma debutante e uma conspiração contra a coroa. Esta temporada será escandalosa!

A serviço do mestre espião da Inglaterra (ou melhor, de sua sobrinha, mas ele certamente aprecia a ajuda), a Srta. Mary Wilson tem a missão de desmascarar uma conspiração contra a coroa. O problema é que sua única pista indica que alguém associado à devassa sociedade secreta do Marquês de Hartford está envolvido. Com a habilidade de passar despercebida, Mary consegue acesso a todas as fofocas da sociedade, mas o Marquês, logo agora, resolve prestar atenção nela. Para piorar, sua tia está determinada a casá-la nesta temporada.

Focado em encontrar a noiva perfeita, o Marquês de Hartford, conhecido entre seus amigos como Rex e na sociedade como um grande libertino, se vê distraído pela discreta Srta. Wilson, que aparece continuamente em lugares onde não deveria. Enquanto Rex tenta entender o comportamento ousado da Srta. Wilson, um pensamento curioso lhe ocorre: seria ela a mulher perfeita para compartilhar a vida, inclusive as atividades da Sociedade do Pecado?

Temporada de Pecado é o primeiro livro da série Disfarces e Disciplina, uma série de romance de época sensual com toques de BDSM.

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