LIVRO:”O QUE NÃO EXISTE MAIS” (LITERATURA NACIONAL)
AUTOR:KRISHNA MONTEIRO
EDITORA:TORDESILHAS
PÁGINAS –112
1ª EDIÇÃO 2015
CATEGORIA: LITERATURA BRASILEIRA
ASSUNTO: CONTOS
ISBN: - 978-85-8419-027-0
CITAÇÃO:
“[...] Não, o espelho traz consigo um veredicto: tu, pai,
estás encerrado em mim. Olho para o corredor. O último lustre se apaga. E, ao
deitar em minha cama, na última, derradeira vez que te vi depois de tua morte,
dou-me conta, pai concluo, pai, que tu sempre haverás de existir. Boa noite. E
adeus.” (pág. 22)
“A fumaça do incensário flutua rumo ao teto da igreja, como
se buscasse, por entre os vãos e as rachaduraas da abóbada, uma frsta por onde
fugir. Bocas e braços se enfileiram diante de um vulto pálido, e um a um os
discos de trigo deslizam do cálice para a mão, da mão para as mãos, e felás para
a saliva e a memória, nas quais se dissolvem. [...]” (pág.27)
ANÁLISE TÉCNICA:
-CAPA-
Um coração entalhado em madeira.
A capa é bem bonita, apesar de simples.
Imagem de capa: lynea/Shutterstock.com
Feita por: Andrea Vilela de Almeida.
NOTA: 4,80 de 5,00
-DIAGRAMAÇÃO:
As páginas são amareladas com letras
pretas de tamanho mediano.
Conteúdo: sumário; apresentação feita
por Noemi Jaffe; dedicatória; sete contos com títulos e citações que inserem o
assunto abordado; e, agradecimentos.
Diagramado pela Alaúde Editorial
Ltda.
NOTA: 4,80 DE 5,00
- ESCRITA:
A escrita é feita em forma narrativa dissertativa
em primeira pessoa (na maioria dos contos), com linguagem culta e mais rebuscada, uma prosa onírica com construção
poética.
As frases são curtas e alguns sem
parágrafos, todo corrido.
É o ponto alto da leitura, onde além
dos protagonistas, há animais que narram suas histórias por um ponto de vista
diferenciado do humano. Se utiliza de analogias e metáforas.
Não foi encontrado erros na escrita.
Revisão: Márcia Moura.
NOTA: 5,00 DE 5,00
CITAÇÃO:
“[...] No escuro, ele se viu cercado
por olhos curiosos, cintilantes, pequeninos: olhos em tudo distintos destas
duas órbitas chamejantes que – ele sabe – querem hoje, nesta tarde, e a todo
custo, destruí-lo. [...]” (pág.38)
“Aninhado entre três mulheres, vejo-a
sacar um caderno do bolso, tomar uma centa e p^r-se a escrever sofregamente. O
sol pousa na superfície de seus papéis. O canto do oceano sobe um tom, como uma
música de fundo. [...]” (pág. 53)
SINOPSE:
“Krishna Monteiro é um escritor
excepcional no modo como maneja as palavras e trata seus temas: memória e
desajuste, solidão e renascimento. O tema da memória é adiantado no título e se
desenrola ao longo dos sete contos do livro. Em "O que não existe
mais", um filho é perseguido pela imagem viva do pai: "Na primeira
vez que te vi depois de tua morte, tu estavas na sala, de pé em frente à minha
estante e aos meus livros". Usando artifícios narrativos como o sonho
dentro do sonho, Krishna enreda leitor e personagem numa miragem, como aquelas
com as quais nos deparamos quando achamos ter visto alguém já falecido no rosto
do familiar dele.Em "Quando dormires, cantarei", o embate entre
passado e presente acontece mesmo numa arena. A densidade espetacular do conto
é construída pelo ponto de vista inusitado do narrador - um galo de briga - e
pelas descrições primorosas esculpidas através dele. No tormento da batalha, em
meio ao sangue derramado, o narrador-protagonista põe-se a rememorar a própria
história - e cada passagem dela pode ser interpretada como uma releitura da
jornada do herói dramático, que encontra no passado a explicação e a motivação
para sua vida atual. "Monte Castelo" retoma a questão familiar,
mostrando avô e neto às voltas com as brigas em família. O neto, que no início
do conto ainda é um menino, é o narrador. A desarmonia entre a mãe e a avó do
garoto é provavelmente o combustível inicial da afinidade entre avô e neto. O
avô leva a criança em passeios pelo bairro da pequena cidade onde mora com a
esposa, a fim de deixar mulher e filha a sós para discutirem a conturbada
relação. No entanto, a dissonância entre as duas invade cada vez mais o espaço
do menino, e suas visitas à cidade dos avós é interrompida pela mãe. Quando
volta, já mais crescido, ele vê o lugar com outros olhos. O momento é de uma
expressiva familiaridade para o leitor: a maioria de nós já revisitou um lugar
da infância apenas para se dar conta de como ele era diferente daquilo que
imaginávamos. Seria essa diferença causada pelo tempo ou pela inevitável
distorção de nossa memória, que seleciona, combina e recombina elementos,
criando uma noção particular de realidade?É por meio da memória que se
reproduzem histórias, como bem sabe o autor, que explora o universo de sua
transmissão oral em "Alma em corpo atravessada". No conto de
encerramento do livro, o narrador, junto a outras crianças, ouve à noitinha e
ao pé do fogão casos narrados por uma mulher sem nome que, como acompanhamento,
mexe as mãos sobre as chamas, produzindo sombras ilustrativas. A doença dela,
entretanto, interrompe a diversão, e com o tempo as crianças vão deixando a
casa. Anos mais tarde, o narrador revisita o lugar, que abriga as lembranças
afetivas de outrora; os elementos do espaço são "cântaros para o interior
dos quais fluiu, durante anos, sem que percebêssemos, a memória do que se disse
e encenou entre as paredes". Embora a solidez da estrutura de uma casa
remeta a algo acabado, fechado, a memória se caracteriza exatamente pelo
contrário: está eternamente recontando a si mesma, dando novo significado a
momentos, lugares e pessoas que já não existem mais - mas que, num inerente
paradoxo, estão a renovar sua existência a cada lembrança.
CITAÇÃO:
“Também havia as manhãs de névoa em
que as mãos de meu avô eram meu único ponto de apoio. Saíamos logo cedo, bem
antes do café, os restos da madrugada se debatendo contra o sol. [...]” (pág.
59)
“[...] implorando meu Deus do céu, me
deixe sair e para sempre serei teu servo; [...] (pág. 92)
RESUMO SINÓPTICO:
O livro traz sete contos que
aparentemente não tem conexão uns com os outros, entretanto, trazem sentimentos
similares: um passado de nostalgia e lembranças amargas; sentimentos de perda,
grande melancolia, arrependimento e remorso.
CONTOS:
O QUE NÃO EXISTE MAIS – Pai falecido
que assombra o filho através de suas lembranças e do gosto pelos livros.
AS ENCRUZILHADAS DO DOUTOR ROSA – Fala
sobre querer algo e se deixar levar pelo desejo, é uma homenagem a Guimarães
Rosa.
QUANDO DORMIRES, CANTAREI – As desventuras
e sensibilidade de um galo de briga.
UM ÂMBITO CERRADO COMO UM SONHO – Um sonho
dentro de outro narrado pelo gato.
MONTE CASTELO – Relata desentendimento
entre o neto e o avô que se amam e vivem discordando.
O SUDÁRIO – Conto mais curto e mais
profundo, traz analogias sobre o suicídio e a libertação dos pensamentos
negativos que rodam a mente humana.
ALMA EM CORPO ATRAVESSADA – tem relação
com o galo, uma contadora de histórias que mostra a dificuldade do ofício
literário, já que mistura realidade e ficção e traz analogia com as vontades de
deixar o legado para quem lê.
CITAÇÃO:
“[...] Amanhã, quando findar esta
sessão, quando vocês que compõem minha audiência forem embora, fecharem a porta
e estas páginas, escreverei; tomarei nota; darei sequência à luta herdada;
apoiado por volumes, livros; absorto como os que exploram pergaminhos; como uma
ave que levanta, bate as asas e alça o peito, canta e renasce; como uma pele
dura e descarnada, esfolada como um veio que se escava e do qual se extrai a
seiva que nos nutre.” (pág.107)
ANÁLISE CRÍTICA E DO AUTOR:
Devo dizer que o livro embora seja
curto, é profundo e intenso; exige atenção, concentração e dedicação na
leitura, para que não se perca os detalhes descritos nas entrelinhas que
demonstram todo sentido da perda que causa o vazio, traz uma tristeza devido as
lembranças e memórias melancólicas, por se saber que não existirão mais tais
lembranças em nossas vidas.
O leitor pode ou não se identificar,
já que alguns contos, mesmo ficcionais, trazem situações cotidianas e de
relação familiar, brigas, discussões, devaneios, relacionados a pessoas que se
amam. O livro tem um sentido mais amplificado e profundo, diante das mensagens
subliminares descritos pelo autor e trazem um sentimento de tristeza, uma
melancolia póstuma após a leitura e grande reflexão sobre tais mensagens.
As interpretações são feitas de
acordo com as experiências individuais, podendo assim, trazer várias vertentes
emocionais e todas trazem de alguma forma, certo entendimento interior. E não é
um livro de fácil leitura, porém é um livro delicado, sensível e de certa forma
poético que toca fundo as almas mais sensíveis e sensibilizadas pelas
vicissitudes que a vida traz.
É um livro para ser degustado aos poucos, de reflexão profunda e sentimentos profundos, entranhados na alma...
NOTA : 4,00 de 5,00
SOBRE O AUTOR:
Krishna Monteiro nasceu em 1973, em
Santo Antonio da Platina, no Paraná, e esteve rodeado de livros desde pequeno.
Depois de graduar-se em economia e obter um mestrado em ciências políticas,
optou por entrar na carreira diplomática, em 2008. Foi editor de textos
literários da revista Juca – diplomacia e humanidades, publicada anualmente
pelo Itamaraty, e cocriador do blog Jovens Diplomatas. Em 2010, tornou-se
vice-chefe de missão da embaixada brasileira no Sudão. Morando pela primeira
vez em terras estrangeiras, foi tomado por lembranças de outras paisagens e
cenas de infância escondidas na memória, e começou a escrever contos, em parte
inspirados em sua própria história, em parte inventados, que resultaram no
livro O que não existe mais. Atualmente, é Cônsul Adjunto do Brasil em Londres.
O que não existe mais é sua estreia como escritor.
Cedido e indicado pela Oasys Cultural.
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